Alterar o idioma do Blog

domingo 16 2014

Crises abrem corrida por energia limpa no mundo

Por Wanderley Preite Sobrinho - iG São Paulo.
           
Efeito estufa, desastres ambientais, crises econômicas e risco de conflito disparam corrida por autossuficiência em energia.
           

Imagem de Três Gargantas, a maior hidrelétrica do mundo, com capacidade para gerar 22,5 megawatts de energia; Itaipú, a maior do Brasil, gera 18 megawatts.
       
Enquanto as autoridades brasileiras rezam para que as chuvas encham os reservatórios das hidrelétricas e o País finalmente desligue as termelétricas – que geram energia até 700% mais cara –, o resto do mundo se aventura no desenvolvimento de energia limpa com o discurso de salvar o mundo e a esperança de conquistar autossuficiência energética.
        
Embora representem 5% da população mundial, os norte-americanos consomem 26% de toda a energia produzida no mundo. Hoje, 84% dela provêm de combustíveis fósseis, 60% só para abastecer o setor de transportes.
        
Diante das crises diplomáticas no Oriente Médio – maior produtor de petróleo – e dos alertas ambientais, o senado americano aprovou em 2006 a Lei de Biocombustível e Segurança. No ano seguinte, 25% da safra de milho já eram destinados à produção de etanol, informa o governo americano. Ambicioso, o setor espera que nos próximos 20 anos 60% dos carros sejam alimentados por energia elétrica, 20% por biocombustíveis e 20% pela luz solar.
     
Em 2009, os Estados Unidos se tornaram líderes mundiais em produção de energia eólica, hoje responsável por 2% da eletricidade gerada pelo país. “Diminuímos em 20% a importação de petróleo entre 2005 e 2013 e vamos reduzir nossas importações pela metade até 2020”, afirmou no ano passado o conselheiro de segurança nacional, Tom Donilon.
         
Quando apenas a produção de energia elétrica é contabilizada, o cenário muda: 51% das usinas americanas são abastecidas por carvão, 21% por urânio, 17% por gás natural, 9% por fontes renováveis (incluindo hidrelétricas) e 1% por petróleo, contabiliza o órgão estatístico U.S. Energy Information Administration.
         

Usina de energia movida a carvão em Bartonville, Illinois, Estados Unidos
           
“Ainda vai demorar até os Estados Unidos abandonarem o carvão porque o país têm grandes reservas dessa que é sua histórica matriz energética”, explica o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales.
           
A mesma análise vale para a China, que usa o carvão para produzir dois terços de sua eletricidade. “Mas como é gigantesca em tudo, a China já é a campeã em produção de energia limpa”, afirma o especialista. Maior produtor de turbinas eólicas e painéis solares do mundo, o país asiático ultrapassou a Alemanha, em 2009, como o maior produtor mundial de energia renovável, responsável em 2020 por 16% da produção energética nacional, projetam autoridades chinesas.
           
Para chegar lá e deixar para trás o estigma de maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa, Pequim prevê a construção de 50 usinas hidrelétricas, algumas quase tão grandes como Três Gargantas, a maior do mundo, responsável pelo deslocamento de 1,2 milhão de pessoas do Estado de Hubei na última década.
        
Oriente Médio
        
Além de maiores importadores de petróleo do Oriente Médio, os chineses também estão de olho no potencial de energia limpa dessa região. No Egito, a eletricidade gerada dessa forma representará 20% da matriz energética até 2020 (12% eólicos e 8% solares), projetou o ministro de Eletricidade do Egito, Mahmoud Mustafá, em uma conferência China-Países Árabes realizada no ano passado.
      
A região vem levando o tema tão a sério que a Agência Internacional de Energia Renovável tem sede na capital dos Emirados Árabes Unidos, Abu Dabi. Uma das razões para essa escolha é o fato de o Oriente Médio dispor de grandes áreas para captação de energia solar, subsidiada principalmente na Arábia Saudita e Emirados.
      
Até o enriquecimento de urânio pelo Irã parece controlado. Em novembro do ano passado, o país assinou um tratado internacional se comprometendo a não ultrapassar o limite de 5% de enriquecimento do urânio, percentual abaixo do necessário para construir armas de destruição em massa.
         
Japão
      
As usinas nucleares são justamente o grande tema no Japão desde que, há três anos, um tsunami na cidade de Fukushima afetou uma geradora. A radiação provocou manifestações pelo País e o desligamento de 50 reatores, afetando 26% da energia produzida no país.
         
A partir de então, os japoneses alcançaram a maior taxa de crescimento na produção de energias renováveis, hoje 10% de todo o consumo. Em declarações oficiais, o governo japonês promete triplicar o uso de fontes limpas em 20 anos. Os planos incluem a construção de 140 turbinas eólicas gigantes, como a que já flutua na costa do país.
     
          
Torre SP 10, em Sevilha, na Espanha, é uma das maiores produtoras de energia solar do mundo.
           
O drama japonês só é comparado ao europeu, onde 54% da energia é importada, segundo a Eurostat (órgão estatístico da União Europeia). Em 2007, a UE importava 82% do petróleo consumido, 57% do gás natural e 97% do urânio, contabiliza a agência Euratom Supply.
       
“Na Europa, os maiores investimentos em produção própria são em energia eólica e solar”, explica Sales. Mas a crise econômica afetou esse investimento, principalmente na Espanha, que interrompeu a expansão de seu parque eólico. “Na Alemanha a situação é ambígua: é o segundo país que mais produz energia limpa, mas compra excedente nuclear da França". Os franceses são os maiores produtores de energia nuclear do mundo, 77% de sua matriz energética, segundo dados da ong Word Nuclear Power.
       
Sales lembra que cada país precisa ter sua própria política energética em razão das diferentes matrizes a que estão sujeitas. “O Brasil se diferencia positivamente da maioria dos países por ter matriz diversificada e predominantemente renovável, o que surpreende pelas dificuldades energéticas que o País vem enfrentando.”
           

Os sinais que o seu corpo não deve dar em uma entrevista de emprego

Especialistas explicam como os gestos e posturas podem transmitir mensagens erradas ou podem ajudar você a conseguir um novo emprego
        
Quem gosta de conversar com alguém que desvia o olhar ao falar ou fica de braços cruzados o tempo inteiro? A pessoa pode não estar fazendo conscientemente, mas a impressão que fica para quem está vendo não é a melhor.
          
Quando nos comunicamos, os gestos, expressões faciais, postura e qualquer outra linguagem corporal, também conhecida como linguagem não-verbal, passam mensagens tão importantes quanto aquilo que estamos falando. E em um momento tão decisivo como uma entrevista de emprego, é preciso estar atento a todas as mensagens que passamos, para que sejam coerentes e demonstrem realmente o quanto estamos interessados e somos capacitados para a vaga oferecida.
         

      
Com uma linguagem corporal boa, o entrevistador vai lhe conhecer com mais facilidade
         
Isto não quer dizer que o entrevistado deva ficar imóvel durante a seleção, mas quem tem domínio sobre a sua expressão corporal pode usá-la a seu favor. "É uma via dupla e não é um jogo de gato e rato. Quando você tem uma linguagem corporal boa, o entrevistador vai lhe conhecer com mais facilidade", conta o especialista em linguagem corporal e grafologia, Paulo Sérgio Camargo.
          
O próprio entrevistador, quando bem preparado e experiente, sabe que a situação causa nervosismo e ansiedade nos profissionais. "Muita coisa é relevada. Se você acabar rotulando o profissional por conta de um movimento que ele faz durante a entrevista, você pode estar perdendo um excelente talento", aponta Marcelo Olivieri, gerente executivo de vendas da Talenses, consultoria em RH.
          
O gerente, inclusive, lembra de um caso em que estava entrevistando um profissional com um ótimo currículo e experiência profissional, mas que falava baixo e parecia apático durante o processo. "Eu poderia fazer uma análise leviana e ter eliminado o profissional. Na entrevista, eu comecei a explorar um pouco mais e ele me contou que no caminho ele tinha batido o carro. Ele estava nervoso e chateado com a situação. Se eu não tivesse entrado nesse detalhe, eu poderia ter rotulado o profissional de uma maneira ruim", observa.
         
Para ajudar o candidato que deseja se expressar melhor com o corpo em uma entrevista e evitar ser mal interpretado pelo recrutador, o iG ouviu especialistas e selecionou 10 dicas de linguagem corporal que podem ser usadas a seu favor e até mesmo lhe garantir um novo emprego. Confira:
          
1 – Saia de casa preparado
           
“Nós somos julgados e avaliados em todos os momentos. Existem empresas que estão avaliando desde a sala de espera, para ver quem você é realmente antes de entrar”, alerta Ronaldo Cavalli, especialista em linguagem corporal e oratória. Segundo ele, adotar uma postura profissional antes da entrevista ajuda o candidato a não ser displicente ao chegar na empresa. Não adianta se sentar de qualquer jeito e falar alto enquanto espera ser chamado para entrar na sala e só se conter lá dentro. Lembre-se que outras pessoas da empresa também podem estar lhe avaliando.
          
2 – Ao entrar na sala, sorria
         
Parece um gesto simples, mas sorrir pode ser um ótimo começo. Ao fazer isso, o profissional transmite a mensagem de que está tranquilo e seguro de que se sairá bem na entrevista, pois confia em seu potencial. Além disso, demonstra simpatia. “Evidentemente, tem de ser um sorriso natural. Não adianta forçar, pois é pior”, comenta Camargo. Ao fazer isso em uma entrevista, você está passando a mensagem de que é uma pessoa confiável.
          

3 – Aperte as mãos do entrevistador
          
Culturalmente, o aperto de mão é como uma selagem de contrato entre duas partes. Ao fazer isso em uma entrevista, você está passando a mensagem de que é uma pessoa confiável e que também confia no entrevistador. “Não estique demais o braço. Dá a impressão de que você não quer cumprimentar e quer distância da pessoa”, aconselha Cavalli. Não existe uma matemática, mas o bom senso pode ajudar. Transmita vontade no aperto de mão, mas não precisa esmagar os dedos de ninguém.
      
4 – Olho no olho sempre
           
Conhece a expressão “Os olhos são o espelho d’alma”? De acordo com os especialistas em linguagem corporal, esta é uma máxima que deve ser lembrada em qualquer conversa que temos. Seja ao entrar na sala, durante as perguntas do entrevistador ou enquanto responde, tente manter contato visual com o interlocutor. Desviar o olhar constantemente pode significar que você está tentando fugir da situação ou não está interessado em conversar.
         
“Quando eu falo com uma pessoa, o resto do mundo acabou. Eu estou inserido na conversa e prestando toda a atenção. Caso contrário, vira uma coisa banal”, comenta Ronaldo Guilherme Lara Campos/Fotoarena Cavalli.
          

O ideal é manter-se com as costas eretas, sem reclinar ou inclinar demais.
          
5 – Sente-se com uma boa postura
          
Apesar da recomendação de entrar na sala de entrevista relaxado e calmo, não significa que o entrevistado pode sentar como se estivesse no sofá da própria casa. Uma postura displicente pode mandar uma mensagem de arrogância ou de que você não se interessa tanto assim na vaga oferecida. O ideal é manter-se com as costas eretas, sem reclinar ou inclinar demais.
     
6 – Descruze os braços e as pernas
        
Pode não ser a intenção, mas ao manter os seus braços cruzados enquanto conversa com outra pessoa você transmite a sensação de que está na defensiva e não está aberta para receber ou transmitir qualquer tipo de informação. Como a entrevista de emprego é o momento em que você tem de deixar o recrutador lhe conhecer melhor como profissional e como pessoa, é recomendável mostrar-se acessível e disponível para responder os questionamentos.
          

Roer as unhas: como todo mau hábito, este também envolve uma sensação de recompensa.
       
7 – Evite gestos de tensão
      
Um processo seletivo é sim uma constante avaliação e, portanto, é natural que o candidato fique nervoso durante as entrevistas. Porém, ao disfarçar a ansiedade, damos ao entrevistador uma chance melhor de nos conhecer como realmente somos no dia a dia de trabalho. Roer as unhas, esconder as mãos embaixo das pernas, agarrar-se na cadeira ou estalar os dedos são gestos que transmitem nervosismo e preocupação, podendo atrapalhar a avaliação do recrutador sobre você.
          
8 – Jamais olhe no relógio
       
Em diversas situações esse gesto seria interpretado como algo rude. A mensagem que passamos ao procurarmos saber que horas são enquanto conversamos com alguém é a de que estamos preocupados com o nosso próximo compromisso, ou a de que estamos entediados e queremos ir embora.
           
O recrutador Marcelo Olivieri lembra algumas fases do processo seletivo podem demorar horas e os candidatos devem ir preparados para isso. Ao marcar uma entrevista, cancele os seus outros programas e demonstre que está disponível e interessado em aproveitar aquela oportunidade.
       
9 – Não minta
           
Ao mentir, não há garantias de que não seremos pegos. O medo de que o entrevistador pode descobrir a verdade cria um nervosismo no candidato que, inconscientemente, vai transmitir sua tensão em gestos. Piscar mais rápido, gaguejar ou até mesmo olhar para a porta, como se querendo fugir, são alguns dos sinais que podem denunciar que aquilo o que você está falando é uma mentira. E você estará tão preocupado em sustentar a farsa, que não perceba que seu corpo está mandando outras mensagens para o recrutador.
             

Uma pessoa tímida que começar a gesticular muito poderá deixar evidente que está atuando.
       
10 – Seja natural
          
Ainda que existam maneiras de utilizar a linguagem corporal a seu favor, é preciso respeitar a naturalidade dos seus gestos. Uma pessoa tímida que, por exemplo, for a uma entrevista e começar a gesticular muito e se expressar demais com o corpo poderá deixar evidente que está atuando e que não se comporta daquela maneira no dia a dia. Este é o momento em que o recrutador precisa lhe conhecer como realmente é, para avaliar se, além das suas experiências profissionais, a sua personalidade também se encaixa com o perfil procurado para o cargo.
         
Para quem quiser ter uma ideia melhor de quais mensagens o corpo está transmitindo e se elas lhe favorecem ou não, os especialistas indicam que você simule uma entrevista e emprego em frente ao espelho ou mesmo em vídeo. Deste jeito, você analisa se a mensagem que o seu corpo está mandando é coerente com o que você quer passar e está a seu favor na busca por um novo emprego.
          

sábado 15 2014

Curiosidade - Por que a parafina da vela não queima?

             
Queima, sim. À primeira vista, parece que só o pavio pega fogo e que a cera de parafina apenas derrete. Mas tente incinerar um pavio solto. Ele será consumido em segundos. 
        
Quando ele está no meio da vela, isso não acontece justamente porque o combustível que alimenta a chama é a parafina (derivado do petróleo composto por elementos inflamáveis, chamados hidrocarbonetos). Quando você acende o pavio, a cera do topo da vela derrete e é absorvida por ele. A alta temperatura faz a parafina líquida virar vapor e é esse vapor que pega fogo. 
        
Com essa capa protetora ao seu redor, o pavio não queima tão rapidamente. Mas, se a própria cera é inflamável, por que sempre sobra parafina quando a vela acaba? Porque a cera contém hidrocarbonetos diferentes: uns mais inflamáveis, outros menos. "Como a temperatura da chama não é suficiente para queimar os menos voláteis, eles simplesmente derretem", diz o químico Flávio Maron Vichi, da USP.
              

sexta-feira 14 2014

Novo protesto dos Professores do Breu Branco fecha a PA 263.

Adimilson Mezzomo (PSDB) - Prefeito de Breu Branco.
          
Professores de Breu Branco em protesto pela redução de salário por parte da Prefeitura interditaram a PA 263. Parece que esta novela não vai acabar nunca. 
         
O Prefeito de Breu Branco Adimilson Mezzomo (PSDB) nem bem assumiu o cargo depois de muita luta, e já em seu primeiro ano de governo, está perseguindo os professores do Breu com cortes de salário.
        
Enquanto em outras cidades os prefeitos procuram valorizar a educação, em Breu Branco o Prefeito faz exatamente o inverso.
       
ISSO É UMA VERGONHA!!!
         

Mujica: ‘Aplicamos um princípio simples, reconhecer os fatos’

José Mujica - Presidente do Uruguai.
            
Em entrevista exclusiva, presidente do Uruguai diz que legalizar no mesmo ano maconha, casamento gay e aborto é apenas resposta à realidade.
                
Mandatário afirmou que seu modo de vida austero é ato de protesto contra distorção dos valores da república por políticos, e que só é visto como modelo por falta de verdadeiros líderes no mundo.
          
‘Camponês com senso comum’. O presidente do Uruguai, José Mujica, durante a entrevista no escritório da humilde casa de 45 metros quadrados onde ainda vive em Montevidéu Sergio Flaksman 
         
MONTEVIDÉU — Todo mundo já sabe, mas se espanta: o presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica, mora numa casa de 45 metros quadrados com teto de zinco, cachorro com três patas e cadeiras de fórmica cambetas. Chega-se a ele sem passar por seguranças ou mostrar documentos: a única formalidade é cumprida por um guarda, que sai do carro de polícia estacionado na estrada de terra e vai perguntar se o presidente está disponível para receber visitas.
           
A sala é escura, tem infiltrações nas paredes, um retrato pequeno de Che Guevara, uma estante com livros desarrumados, uma foto dele com a faixa de presidente, uma caixa de vinho encostada num canto — um Bouza, o melhor do Uruguai. Quando era guerrilheiro tupamaro, Mujica assaltava bancos e distribuía comida entre os pobres.
            
Agora doa 90% do salário e só vai à residência oficial da Presidência quando o visitante exige segurança redobrada. Seu estilo divide opiniões no país, mas sua popularidade é maior agora do que ao ser eleito, em 2009. Num único ano, 2013, legalizou o aborto, o casamento gay e a maconha. Virou inspiração para muitos jovens — e não tão jovens — por seu jeito despojado de fazer e ver a política. “Eu não sou nada, sou apenas um camponês com senso comum”, afirma.
          
Mujica é firme e seguro em suas opiniões: não vai existir um turismo da maconha, as repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas cortes, a política não pode ser uma máfia e tem limitações. O Uruguai — diz até a oposição — vive um momento de autoestima alta e Mujica — indicam as pesquisas — deverá eleger seu sucessor em outubro. Mas seu estilo é único.
            
Em abril, a lei da maconha estará regulamentada e em vigor no Uruguai. A maioria da população é contra, o senhor está preocupado? É um risco político num ano de eleição?
            
Não estou preocupado. Não posso estar preocupado por uma coisa que eu mesmo decidi. Posso ficar preocupado depois que comecemos a praticá-la. É um risco político sim, mas definitivamente o mundo não teria mudado se só pensarmos nos riscos eleitorais. Aqui, quando se estabeleceu o divórcio por vontade da mulher, em 1914 ou 1915, dizia-se que a família iria se dissolver, a moral da família seria afetada e poderia não resistir.
           
Quando o Estado nacional legalizou o álcool e durante 50 anos o vendia às pessoas, dizia-se que era igual a sovietizar a economia. Sempre que propomos alguma coisa diferente, a reação é parecida. Na legalização do aborto, também disseram o mesmo mas agora constatamos que a maioria da população respalda essa política, entendeu que serviu para salvar vidas, tanto das mulheres quanto das crianças.
         
Agora, podemos agir sobre a psicologia da mulher, podemos atuar diante da solidão da mulher e fazê-la dar marcha à ré em sua decisão. Isso só é possível porque legalizamos o aborto. Acho que seguiremos um caminho parecido contra o narcotráfico.
          
Mas agora é mais radical. O Uruguai será o primeiro país do mundo onde a maconha será legal.
           
Queremos tirar o mercado do narcotráfico, queremos tirar-lhes o motivo econômico, queremos que o narcotráfico tenha um competidor forte e não seja o monopolista do mercado. Ao mesmo tempo, tentamos incitar as pessoas a atuarem do ponto de vista médico.
        
Se as pessoas continuam no mundo clandestino, não podemos trabalhar, pelo menos trabalhar a tempo, só entramos quando já é muito tarde e quando já cometeram delitos para ter dinheiro e conseguir a droga. Mas temos que ter muito cuidado, porque não é uma legalização como as pessoas supõem no exterior, não vai ter um comércio, os estrangeiros não poderão vir aqui ao Uruguai para comprar maconha. Não vai existir o turismo da maconha. A decisão tomada não tem nada que ver com esse mundo boêmio. Nada que ver..
         
Nada de revival do paz e amor....
         
Não, não tem nada a ver. É uma ferramenta de combate a um delito grave, o narcotráfico, é para proteger a sociedade. É muito sério.
          
O senhor em algum momento da vida fumou maconha?
      
Não, nunca, sou antigo. Fumei tabaco toda a minha vida, e ainda fumo às vezes. Fumo tabaco bom. Não sei se é pior que maconha, mas não acho que é bom.
          
O senhor rompeu com todos os símbolos do poder. O seu estilo de vida, austero, é uma mensagem política?
           
Pretende ser um mini-ato de protesto. As repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas cortes, as repúblicas nasceram para dizer que todos somos iguais. E entre os iguais estão os governantes. Têm uma responsabilidade implícita e penso que devem viver de forma bastante similar à maneira de viver da maioria do seu povo.
          
Têm de tentar representar a maioria desse povo e não devem deixar os resquícios de feudalismo e da monarquia dentro da república. Na república é distinto, ninguém é mais que ninguém, começando pelo governante. Por não ser assim é que muitíssima gente — especialmente os jovens — não crê na política. A política não pode ser máfia e tem limitações. Mas se os cidadãos não creem na ética da política, também não vão perdoar os erros humanos que inevitavelmente estamos condenados a cometer.
          
No Uruguai, os partidos de esquerda conseguiram se unir numa Frente Ampla que dura 40 anos. É um país em que a polarização política não é forte, ainda mais se comparada com os EUA, a Venezuela e mesmo no Brasil. Não imobiliza o governo.
            
Faz muito tempo que na nossa cultura política se incorporou o diálogo e o intercâmbio como método. Sobrevivem no Uruguai os dois partidos mais velhos provavelmente do Ocidente, mas nunca foram partidos exatamente, sempre foram frentes, tinham dentro a esquerda, o centro e a direita, tudo junto. Quer dizer, tinham de negociar muito internamente, se não perdiam para o partido adversário.
           
Acabou criando-se uma espécie de cultura nacional, a esquerda uruguaia conseguiu criar a frente por causa desta cultura. Nesta frente, estamos todos, inclusive os cristãos, os católicos e os marxistas. E cada vez estamos mais seguros, porque agora já se criou uma tradição: quem sai da Frente, perde. Se saem desse conglomerado, desaparecem politicamente, aconteceu assim várias vezes. Internamente há um movimento, muda-se de partido, mas o bloco continua. Por isso, não podemos ser radicais, somos uma esquerda moderada, porque a linha real é uma espécie de ponto médio entre nós. E isto encarna bem o Uruguai, pouca montanha, pouca selva, todos moderados no Uruguai.
             
O senhor diz que é moderado mas sua agenda modernizadora botou o país no cenário mundial.
                 
Aplicamos um princípio muito simples: reconhecer os fatos. Aborto é velho como o mundo, a mulher na sua solidão, inevitavelmente tem de enfrentar com este problema. Para nós, a legalização do aborto e os métodos de contracepção, o trabalho psicológico, significam uma maneira de perder menos. Aqui a mulher não vai diretamente a uma clínica para fazer aborto, isto era na época em que era clandestino. Passa pelo psicólogo, depois é bem atendida.
              
O casamento homossexual, por favor, é mais velho que o mundo. Tivemos Julio Cesar, Alexandre O Grande, por favor. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos. É um dado de realidade objetiva, existe. Para nós, não legalizar seria torturar as pessoas inutilmente.
            
Nosso critério é fazer só uma organização dos fatos já existentes. Aqui enxergamos a hipocrisia: em muitos estados nos Estados Unidos existe um talonário vendido no comércio para receitas médicas; basta o médico assinar e dizer que necessitas de maconha para uma dorzinha aqui (aponta o ombro). É hipócrita.
                 
Existe no mundo uma crise de representatividade das democracias e, ao mesmo tempo, uma efervescência de protestos por toda a parte. Como o senhor analisa este este fenômeno?
                     
Acho que existe uma fantasia e uma incomunicabilidade em relação aos assuntos mais importantes. O mundo vive uma crise de caráter político, nossa civilização entrou numa etapa de crise de governança. O mundo está necessitando um conjunto de acordos de caráter mundial, porque tem problemas que nenhum país sozinho pode resolver.
            
A humanidade tem de pensar em governar, não para a nação ou para o indivíduo, mas para o futuro da espécie. Com este tipo de civilização que desatamos, não há forma de mitigar os danos ao meio-ambiente, não estamos resolvendo nada, só acumulando desastres. Existe um continente de plástico no Pacífico maior do que a Europa.
              
Que vai ser da humanidade? E vamos continuar a produzir plástico e atirando no mar, sem conseguir um acordo mundial por causa da política?
            
Na ONU, o senhor falou contra o modelo de desenvolvimento.
            
Falta uma agenda de grandes problemas que têm o mundo. De um lado, temos uma economia baseada no hiperconsumo de coisas inúteis: fabricar bagatelas que durem pouco. Poderíamos seguir movendo a economia mundial com outro motor e sacar parte da humanidade que está submersas na tristeza e na pobreza, em lugares que falta água. Isto é um mercado, a solidariedade levaria à criação de um mercado maior posteriormente.
            
Temos que lutar para que todos trabalhem, mas trabalhem menos, todos devemos ter tempo livre. Para que? Para viver, para fazer o que gostam. Isto é a liberdade. Agora, se temos de consumir tanta coisa, não temos tempo por que precisamos ganhar dinheiro para pagar todas essas coisas. Aí vamos até que pluff, apagamos.
             
Mas o senhor tem simpatia pelos movimentos de protesto, como a primavera árabe, o grupo italiano 5 estrelas ou os protestos no Brasil e na Europa?
             
Tem muito protesto de intelectual médio, que segue preso à sociedade de consumo e depois vai enriquecer trabalhando para alguma multinacional, quando passar a idade dos protestos. Eu simpatizo com os protestos, mas não levam a lugar nenhum.
           
Mas derrubaram alguns governos, deram alguns sustos em governantes acomodados.
            
Sim, mas não construíram nada. Para construir, há de se criar uma mente política, coletiva, de longo prazo, com ideias, disciplina, e com método. E isso é antigo, ou parece antigo. Mas sem interesses coletivos, é difícil mudar. Não são os grandes homens que mudam as sociedades, mudam quando os protestos se organizam, disciplinam, têm métodos de longo prazo.
           
E isso significa gente que dedique sua vida. Temos de revalorizar o papel da política. Mas no mundo real, muita gente se mete na política por que gosta de dinheiro, estes devem ser expulsos porque prostituem a política. A política tem de ser feita com carinho, a política tem a ver com a harmonia das contradições que há na sociedade, tem de lutar para harmonizar este mundo frágil e cheio de contradições que estamos vivendo.
             
Estes movimentos de protesto têm a vantagem do novo, e tentam alguma coisa nova porque desconfiam de todos os velhos, especialmente os partidos, por que perderam a confiança neles. Mas as primaveras têm se transformado em inverno por que não sabem onde ir.
                 
O senhor, quando tupamaro, pretendia tomar o poder para mudar o mundo. Chegou lá pelas vias democráticas. Quais são as limitações do poder de um presidente?
                
O poder é uma coisa muita esquiva e muita fragmentada. Há 40 ou 50 anos, achávamos que chegar ao governo nos permitiria criar uma nova sociedade. Nossa maneira de pensar era ingênua, uma sociedade é muito mais complexa e o poder muitíssimo mais complexo.
          
E limitado?
            
Limitado por todos os lados, pelo peso que têm as corporações existentes na sociedade. Limitado pelo direito e pela Constituição, um limite que tem de existir. A contradição das corporações e dos distintos interesses, as dificuldades da realidade. E, sobretudo, toda a política de mudança, a longo prazo, significa mudança de cultura. E o mais difícil de mudar numa sociedade é a cultura.
                  
Quando somos jovens, às vezes, não temos paciência para compreender. E, quando começamos a ficar velhos, falta força e sobra paciência.
                 
O senhor já disse que Uruguai poderia ser um vagão no trem brasileiro. Ficou aborrecido pela falta de resposta?
                
Não, nós sempre vemos muita boa vontade no governo brasileiro, cada vez que tivemos problemas o governo brasileiro nos deu uma resposta. Mas o Brasil é uma confederação de estados e as dificuldades no comércio passam pelos interesses dos Estados.
              
Lutamos humildemente para que o Brasil entenda a responsabilidade que tem na América Latina. Por ser o maior e mais forte, tem mais responsabilidade e tem de se dar conta desta responsabilidade.
                 
Conta a lenda que Dilma não gosta de política externa.
                
O problema é que todo o Brasil tem dificuldade de olhar para a política externa. Existe uma corrente dentro do Brasil que defende uma integração interna primeiro, mas já não há tempo para isso.
              
Isto pode ser válido mas já não dá tempo porque o mundo caminha assim. As multinacionais estão formando grupos gigantescos, a Europa tem mais de 600 milhões de pessoas, têm línguas distintas, tradições distintas, mas esse barco segue navegando apesar de todos os problemas. Os EUA têm seu espaço, têm o Canadá, uma terra prometida. De outro lado do Pacífico tem a China, com 40 línguas faladas dentro da China, os que são minorias são maiores do que qualquer república latino-americama. A Índia é um espaço multinacional.
                 
Este é o caminho do mundo do futuro e a discussão vai ser entre eles. Nós, latino-americanos, temos de ter a sabedoria de tratar de construir acordos para poder pesar neste mundo. Nós precisamos do Brasil, mas o Brasil necessita de nós todos, porque o desafio é de continentes. Isto não significa que as nações percam identidades, pelo contrário, significa que a política do futuro tem diversos planos — vai seguir existindo o municipal mas há uma agenda do mundo e temos de participar dela como grande unidade continental e temos de construí-la.
               
Mas o Mercosul não tem a capacidade de fazer isso.
              
Tem dificuldades. A burguesia paulista, que é a mais competente do continente, deveria entender que é tempo de juntar aliados, não de colonizar. Tem de criar sistemas de multinacionais latino-americanas e uma forma é multiplicar a força juntando-nos. A luta é que os brasileiros sejam mais latino-americanos, que aprendam a falar castelhano e nós temos de aprender o português.
                
Lula declarou que vai lançá-lo para presidente da Unasul.
            
Lula tem muita preocupação com o meu futuro e eu com o dele. O Brasil tem a Amazônia, os grandes rios, reserva petroleiras importantes e deve recordar que também tem Lula. Tanto privilégio no mundo é difícil.
                      
O senhor foi chamado de presidente "gente boa" pelo jornal espanhol ‘El Mundo’, a Foreign Policiy disse que o senhor redefiniu o papel da esquerda no mundo. O senhor se reconhece em algum desses papeis?
                  
Reconheço a tragédia do mundo atual. Este reconhecimento tão generoso é o outro lado do que está acontecendo no mundo de hoje. Não é que me achem tão excepcional, me usam como uma maneira de criticar os outros. A última vez que estive na ONU escutei discursos de um presidente de um país europeu pelo qual temos um respeito enorme pela cultura, por suas tradições, pelo que significou no mundo. Fiquei assustado, porque parecia um discurso neo-colonialista
             
Era o presidente da França?
            
Foi um terror, um presidente de esquerda, da república francesa, a pátria-mãe das revoluções. Se olhamos a política italiana, é um terror. Eu não sou nada, sou um camponês com senso comum. Sem dúvida, estou vivendo uma peripécia. Talvez, se não tivesse passado tantos anos presos com tempo para pensar, fosse diferente.
                     
O Uruguai foi responsável por um grande trauma brasileiro em 50, quando derrotou o Brasil no Maracanã. Esta história pode se repetir?
                  
Muito difícil, isto foi uma coisa excepcional. Mas tinha antecedentes, o Uruguai tinha passado por uma grande greve de jogadores, assim que acabou teve de se montar uma seleção para jogar com o Brasil. E esta seleção ganhou. O futebol na época estava mais equilibrado na região: agora é quase impossível para o Uruguai – um país de 3 milhões de pessoas - ganhar um Campeonato do mundo.
                
Ano passado estive na Espanha, o presidente do Real Madrid me contou que o orçamento do clube é de US$ 400 milhões por ano, nenhum clube do Uruguai gastou isso em toda a sua vida. Mas ninguém pode nos proibir de sonhar. O futebol tem milagres e isto é interessante. Estão dizendo que o estádio está atrasado, mas sempre se termina no último momento, uma semana antes o Maracanã estava cheio de tapumes.
                 
Brasil vai fazer um campeonato do mundo lindo. Brasil deve apreciar o melhor que tem, não é a Amazônia nem o petróleo, é o experimento social de ser o país mais mestiço do mundo. E tem uma grande alegria de viver, mesmo com as dificuldades e isso deve à África. Por isso, a luta é que brasileiros sejam mais latino-americanos.
   
"Tudo que o homem não conhece não existe para ele. Por isso o mundo tem, para cada um, o tamanho que abrange o seu conhecimento."
Carlos Bernardo González Pecotche.
    
"Um povo ignorante é um instrumento cego da sua própria destruição."
Simón Bolivar ---
    
Professor Eratóstenes de Almeida Fraga Lima - Toza Lima
Engenheiro Sanitarista
Especialista em Gestão Estratégica Pública