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terça-feira 29 2014

'Gelo de fogo' escondido em solo do Ártico é fonte de energia do futuro?

Por BBC Brasil 
         
EUA, Japão e Canadá investem em tecnologia de extração de hidrato de metano, também abundante sob leito do mar
    
O mundo é viciado em combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), e é fácil entender por quê: baratos, abundantes e fáceis de extrair, eles alimentam o desenvolvimento da indústria mundial.
    
   
O metano hidratado fica abaixo de muitas camadas de gelo ou no fundo do mar.
          
Cada vez mais, porém, os governos vêm buscando alternativas aos hidrocarbonetos tradicionais - seja porque são altamente poluentes ou porque sua extração tem se tornado mais difícil, à medida que algumas reservas vão se esgotando.
         
Um substituto potencial - em enormes quantidades - foi encontrado e repousa profundamente sob permafrost (solo gelado do Ártico) ou os leitos dos oceanos: o hidrato de metano.
           
Apesar de potencialmente menos poluente que petróleo e carvão, porém, sua extração apresenta enormes riscos ambientais.
          
Reservas gigantes
         
Conhecido como "gelo que arde", o hidrato de metano consiste em cristais de gelo com gás preso em seu interior. Eles são formados a partir de uma combinação de temperaturas baixas e pressão elevada e são encontrados no limite das plataformas continentais, onde o leito marinho entra em súbito declive até chegar ao fundo do oceano.
       
Acredita-se que as reservas dessa substância sejam gigantescas, observa Chris Rochelle, do Serviço Geológico Britânico. A estimativa é de que haja mais energia armazenada em hidrato de metano do que na soma de todo petróleo, gás e carvão do mundo.
          
Ao reduzir a pressão ou elevar a temperatura, a substância simplesmente se quebra em água e metano - muito metano.
         
Um metro cúbico do composto libera cerca de 160 metros cúbicos de gás, o que o torna uma fonte de energia altamente intensiva. Por causa disso, da sua oferta abundante e da relativa facilidade para liberar o metano, um número grande de governos está cada vez mais animado com essa nova fonte de energia.
      
Desafios técnicos
       
O problema, porém, é extrair o hidrato de metano. Além do desafio de alcançá-lo no fundo do mar, operando sob altíssima pressão e baixa temperatura, há o risco grave de desestabilizar o leito marinho, provocando deslizamentos.
         
Uma ameaça ainda mais grave é o potencial escape de metano. Extrair o gás de uma área localizada não é tão complicado, mas prevenir que o hidratado se quebre e libere o metano no entorno é mais difícil.
         
E isso tem consequências sérias para o aquecimento global - estudos recentes sugerem que o metano é 30 vezes mais danoso que o CO2.
        
Por causa desses desafio técnicos, ainda não há escala comercial de produção de hidrato de metano em qualquer lugar do mundo. Mas alguns países estão chegando perto.
        
Os Estados Unidos, o Canadá e o Japão já investiram milhões de dólares em pesquisa e já realizam alguns testes, desde 1998. Os mais bem-sucedidos ocorreram no Alasca em 2012 e na costa central do Japão em 2013, quando, pela primeira vez, houve uma exitosa extração de gás natural a partir de hidrato de metano no mar.
        
Os Estados Unidos lançaram um programa de pesquisa e desenvolvimento nacional já em 1982 e, em 1995, tinham terminado a sua avaliação dos recursos disponíveis do gás de hidratos no país. Desde então, têm realizado projetos-piloto na costa da Carolina do Sul, no norte do Alasca e no Golfo do México. Cinco ainda estão em execução.
          
Exploração comercial
        
O interesse do Japão é óbvio, assinala Stephen O'Rourke, da empresa de consultoria energética Wood Mackenzie: "O Japão é o maior importador de gás do mundo."
         
No entanto, ele ressalta que o orçamento anual do Japão para pesquisa na área é relativamente baixo - US$ 120 milhões (cerca de R$ 270 milhões). Os planos do país de produzir em escala comercial no fim desta década, portanto, parecem muito otimistas. Mas, mais à frente, o potencial é enorme.
          
"O gás metano pode mudar o jogo para o Japão", diz Laszlo Varro, da Agência Internacional de Energia (IEA).
         
Em outros países, porém, os incentivos para explorar o gás comercialmente são menores por enquanto. Os Estados Unidos estão priorizando suas reservas de gás de xisto, recurso que também é abundante no Canadá. Já a Rússia ainda tem enormes reservas de gás natural.
       
A China e a Índia, com sua feroz demanda por energia, são uma história diferente. No entanto, elas estão muito atrás em seus esforços para explorar o recurso. "Houve alguns progressos recentes, mas não prevemos produção comercial antes de 2030", afirma O'Rourke.
         
De fato, a IEA não incluiu gás hidratado nas suas projeções globais de energia para os próximos 20 anos.
          
Riscos
      
Mas se essa fonte for explorada, o que parece provável no futuro, as implicações ambientais podem ser extensas.
        
Apesar de ser menos poluente que o carvão ou o petróleo, continua sendo um hidrocarboneto e, portanto, emite CO². E há ainda o risco mais sério da liberação direta de metano na atmosfera.
          
Alguns argumentam, porém, que pode não haver alternativa, na medida em que o aumento da temperatura global pode provocar a liberação do gás "naturalmente" por causa do aquecimento dos oceanos e do derretimento das calotas polares.
         
"Se todo o metano for liberado, nós vamos ver um cenário de filme Mad Max", diz Varro. "Mesmo usando estimativas conservadoras sobre as reservas de metano, isso faria todo o CO² de recursos fósseis parecer uma piada", destacou.
           
"Por quanto tempo o gradual aquecimento global pode prosseguir sem liberar o metano? Ninguém sabe. Mas quanto mais ele avança, mais perto chegamos de jogar roleta russa", acrescentou.
                

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