Matéria do Blog Tijolaço
Enquanto os jornais brasileiros se ocupam de destruir o único setor da economia onde ainda imperava o capital nacional, a construção pesada, é no China Daily que você fica sabendo que estão avançando as tratativas para por em prática o acordo assinado em julho passado entre o Brasil e a China (e, depois, o Peru) para a construção de uma ferrovia de 5 mil quilômetros (40% já existentes) ligando o Atlântico e o Pacífico.
Valdemar Leão, o embaixador do Brasil para a China, em entrevista ao Diário do Povo, anunciou que, nos próximos dias, começam as reuniões técnicas para a execução do projeto. Coisa pequena, de mais de US$ 30 bilhões, financiados pelos chineses à base de “project finance”, ou pagamento com a própria operação da ferrovia.
Claro que não é porque os chineses são “bonzinhos”, mas porque pensam estrategicamente em suas necessidades de grãos e de minérios, tanto que já se lançaram às obras do Canal da Nicarágua, que tira do Panamá (e do controle dos EUA) a ligação entre o Atlântico e o Pacífico. Alás, não apenas aqui, na América Latina, mas em todas as partes do mundo.
Há, ainda, um problema a ser superado, que é a reivindicação da Bolívia de que o trajeto inclua seu território, com uma ligação com La Paz. Mas, como a solução provável para isso deve ser um ramal ligando a Bolívia ao trajeto principal, este pode começar a ser detalhado antes.
Porque um projeto destes, para chegar ao ponto de execução, consome anos e, a rigor, esta é uma ideia que tem décadas, já.
Quando chegarmos ao ponto de realizar obras – com o projeto encarecido ao extremo por exigências ambientais, como as que acabaram por inviabilizar o trem-bala entre o Rio e São Paulo – que empresas irão realizá-lo?
A José Manoel Reformas e Pinturas? A Fulaninho Engenharia Ltda.? Ou, quem sabe, uma chinesa, já que os amigos de olhinhos repuxados não vão entregar de bandeja para a Halliburton?
Nunca é demais relembrar a velha piada sobre a ponte que Deus e o Diabo resolveram construir entre Céu e Inferno, para facilitar o trânsito das almas decaídas e das redimidas, de um lado para o outro.
Combinaram que cada um faria metade e, dali a um ano, as duas partes se reuniriam num ponto intermediário, bem no meio do Purgatório, onde haveria um trevo de acesso em ambos os sentidos.
Passou o ano e, como combinado, lá estava o Diabo de pé, orgulhoso e cheirando a enxofre, na ponta de sua metade da obra.
Mas a parte que vinha do Céu não estava lá.
Chega então Deus, constrangido, a bordo de sua nuvem e leva logo uma cobrança do Capeta: “francamente, depois eu é que sou o Príncipe da Mentira? Cadê a sua parte na ponte, Senhor?
E Deus, meio sem jeito: sabe o que é? É que procurei, procurei, mas no Céu não tem um empreiteiro que seja…
Pelo visto, o Brasil vai virar o Céu. Mas um Céu bem atrasadinho, um verdadeiro Inferno.
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