Por Natália Peixoto , iG São
Com uso liberado fora do período eleitoral, Facebook,
Twitter, Instagram e outras redes movimentam bandeiras e público cativo de
candidatos
Diferente do rádio e da TV, a internet é uma zona livre para
políticos em busca de projeção entre milhões de brasileiros, de uma forma
barata e rápida, e com a vantagem de receber retorno imediato das impressões do
público. Em ano eleitoral, centenas de políticos se dedicam a marcar território
e criar páginas em redes sociais, ávidos por fãs, seguidores, curtidas e
compartilhamentos. “A lógica do político é servir o eleitorado dele e até então
não existia um canal direto, com a possibilidade de escala tão grande de
diálogo com esse eleitor, a não ser um comício”, explica Pedro Waengertner,
coordenador do núcleo de estudos e negócios em marketing digital da ESPM.
A empolgação do momento, entretanto, pode reservar
armadilhas para os desavisados e iniciantes no mundo virtual e transformar o
que serviria em um trampolim para a popularidade de um candidato em motivo de
piada e de antipatia. Erros comuns como posts longos demais, fotos
inconvenientes, assuntos inapropriados, excesso de formalidade ou o oposto,
conhecido como “oversharing” na rede (superexposição da vida íntima) podem
destruir trabalhos de equipes inteiras de consultoria de imagem.
A presidente Dilma voltou às redes sociais em 2013. Dilma
Bolada (@diImabr) conversa com a presidente Dilma (@dilmabr).
Apesar de não existir certo ou errado, é sempre bom quem
está do outro lado da tela ter cuidado antes de publicar qualquer coisa. “Além
de saber quais são as exigências da lei, importa o bom senso. Nas redes, o
objetivo do político é estabelecer uma relação próxima, quase pessoal com seus
eleitores, de duas mãos. A maioria dos políticos tem a mentalidade de falar
para os eleitores e não com os leitores”, diz Waengertner.
“Existem boas e más práticas em redes sociais,
independentemente de se tratar de contas de candidatos a cargos políticos ou de
marcas comerciais. É um conjunto longo de convenções que foram se estabelecendo
ao longo dos últimos anos e que englobam desde aspectos de presença humanizada
até o respeito ao DNA de cada rede”, afirma Ana Bambrilla, jornalista e
doutoranda em redes sociais.
Uma unanimidade nas dicas de especialistas é usar o tom
pessoal na administração das contas, usando como medida a personalidade do
político e o perfil do seu eleitorado, se ele aceita ou não a troca de
intimidades. “Muito antes de ser um espaço de mídia, as redes são um
desdobramento dos sites de relacionamento, feito para e por indivíduos. Num
segundo momento é que as marcas foram se apoderar desses ambientes”, diz Ana,
ao explicar que é importante o político manter a autenticidade.
Para evitar
gafes, ela orienta manter um gerenciamento misto das redes sociais,
identificando sempre quando a postagem foi feita por um assessor, evitando a
rejeição de um tom artificial. “O teatro não se sustenta porque é impossível
recriar uma personalidade o tempo todo; vai chegar a hora em que os eleitores
irão notar que não é o próprio candidato que está postando.”
Mesmo usando pessoalmente, o dono da rede social deve evitar
apenas reproduzir conteúdos do seu órgão oficial, ainda mais considerando que
tal órgão também deve ter suas páginas oficiais.”Postar apenas matérias
oficiais fica fake numa rede que clama pela personificação do discurso.
Releases já são veiculados pelos sites dos partidos. Usar as redes apenas para
repostá-los é um sub-uso extremo e dispensável”, diz Ana.
“O político que não tem conhecimento do assunto, vê pela
ótica da audiência, quantas curtidas ele tem, quantos seguidores. Com a
experiência, ele começa a se importar mais com o engajamento. O resultado não
se mede pelo número de pessoas que seguem, mas com o interesse que ele gera”,
ensina Waengertner. No mundo das redes, o envolvimento dos seguidores é medido
pela importância da interação.
No Twitter, não basta ter seguidores, é preciso
ter menções e retwittes – que é quando outro usuário republica o twitte do
candidato. No Facebook, o número de amigos ou curtidas na página é importante,
mas não tão quanto uma curtida no post que, apesar de também ser importante,
também mostra um envolvimento menor do que um comentário, que, por sua vez, tem
menor impacto do que o compartilhamento do post.
Para manter um público fiel, é preciso dedicação e não abandonar
perfis. Para isso, é bom escolher entre a infinidade de redes as que mais
agradam e se encaixam no perfil do político e seguir as suas convenções.
Twitter, Facebook, Google Plus e Youtube são as mais populares. Ações como chat
coletivo e hang outs também são estratégias válidas, se enquadrarem com o
perfil do candidato. E importante: é preciso ficar online também depois da
vitória ou derrota.
Autenticidade também é a dica oficial do Facebook aos
políticos que compartilham o dia-a-dia em suas páginas. A rede, que se orgulha
de ter uma penetração de 80% dos usuários da internet no Brasil, sugere que os
perfis públicos usem suas iniciais, por exemplo, para identificar quando o post
foi feito pela própria personalidade, e não por assessoria. Entre as dicas da
rede social de Mark Zuckerberg também está a busca por engajamento dos fãs, por
meio da promoção de chats, encontros virtuais e interação com fotos, vídeos e
momentos dos bastidores.
No Facebook, há a possibilidade de comprar a
divulgação de sua conta, com anúncios segmentados para conquistar novas
curtidas, ou até mesmo comprar fãs. O que é oficial no Face, é feito por baixo
dos panos no Twitter, onde pode-se inflar o número de seguidores
artificialmente. “Patrocinar (um perfil) não tem problema, é só saber como
usar. Mas usar má fé, comprar seguidores, isso sim denigre a imagem, queima o
político, precisa tomar cuidado e ser coerente”, afirma Waengertner.
Lei eleitoral e guerra suja
As redes sociais podem dar uma mão extra para candidatos com
grande base popular mas com menos dinheiro que seus adversários. Ana lembra a
projeção dada a Marina Silva, então candidata pelo PV, e a Plínio de Arruda
Sampaio (PSOL), por ações criativas e espontâneas pensadas especificamente para
os internautas que os acompanhavam. “Neste ano, com mais gente conectada e
consciente de que as redes são um espaço de diálogo, de aproximação com o
candidato, não aproveitar adequadamente as possibilidades desses canais pode
trazer prejuízos não só nas urnas, mas à imagem da figura pública”, avalia.
Os candidatos podem explorar as ferramentas virtuais com
mais segurança após a decisão da Justiça Eleitoral, em setembro do ano passado.
Por maioria de votos, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
decidiram que manifestações políticas feitas por meio do Twitter não serão
passíveis de serem denunciadas como propaganda eleitoral antecipada. E a
minirreforma eleitoral, aprovada pelo Congresso e sancionada em dezembro
passado, libera manifestações partidárias o ano inteiro.
Apesar de liberar o uso, a nova lei também penaliza a
chamada “guerra suja” na rede. Agora é crime contratar "direta ou
indiretamente um grupo de pessoas com a finalidade específica de emitir
mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de
candidato, partido ou coligação”. A pena para o candidato ou responsável pode
variar de dois a quatro anos de prisão, além de multa entre R$ 15 mil e R$ 50
mil. Para quem for contratado e postar conteúdo apócrifo pode enfrentar de 6
meses a 1 ano de prisão e multa de R$ 5 a R$ 30 mil.
As eleições de 2014 serão as primeiras com as novas regras
e, com o crescimento do acesso à internet no Brasil, a atenção a coisas boas e
ruins irá crescer. “A gente ainda vai ver muitos perfis denegrindo, blogs
sujos. Quem usa essas práticas não éticas durante a campanha deveria refletir
se vale à pena. Está cada vez mais fácil identificar de onde vem isso, e o tiro
pode sair pela culatra”, diz Waengertner.
Conheça as cinco dicas do Facebook para políticos
1. Seja autêntico - Compartilhe suas emoções e forneça
análises pessoais em profundidade de eventos e assuntos para permitir que seus
fãs se identifiquem com você de forma significativa. Use imagens ou assine suas
publicações com suas iniciais quando quiser que os fãs saibam que é você que
está postando, não sua equipe.
2. Use fotos e vídeos - De forma geral, imagens e vídeos
geram um bom engajamento no Facebook. Faça o teste e publique mensagens com
fotos, além de apenas atualizações de status. Quando você atingir a sua meta,
faça um vídeo agradecendo seus fãs.
3. Leve seus fãs para os bastidores - A maioria dos seus fãs
não sabe o que realmente é ser um político por um dia. Compartilhe fotos e
descrições de quando está se preparando para discursar, reuniões com pessoas
interessantes ou no seu gabinete.
4. Seja atual - Faça publicações acerca de temas e questões
sobre os quais as pessoas já estejam falando no Facebook. Comemore feriados e
outras datas importantes para seu Estado ou cidade.
5. Crie um diálogo - Dê aos seus fãs a oportunidade de fazer
perguntas. É possível fazer uma sessão de perguntas e respostas em sua página.