Quando a 'cervejinha' vira vício
Fim de semana está aí e tomar aquela cervejinha com os amigos é algo irresistível. A bebida alcoólica apreciada com moderação faz parte da rotina de muitos, mas quando ela se torna a única e constante companheira, é hora de ficar alerta para os sinais do alcoolismo.
O vício, segundo estudo divulgado no início deste mês pela Organização Mundial de Saúde, mata por ano 2,5 milhões de pessoas no mundo, o que corresponde a 4% de todos os anos perdidos de vida útil.
À primeira vista, uma dose de bebida alcoólica não traz problemas, mas quando o hábito deixa de se tornar ocasional e torna-se diário, à luz do dia e fora da normalidade, estigmatiza e é encarado como defeito de ordem moral, além de abrir as portas para outras dependências químicas.
“Parei pra ver que ia perder tudo se não parasse com isso, aprendi com os meus erros e saí do alcoolismo pesado. Bebo hoje sozinho umas 2, 3 cervejas nos finais de semana, uma ‘manutenção’ e depois vou logo pra minha cela e a minha carcereira, que são a minha casa e a minha esposa”, explicou divertido o motorista Mauro Mesquita.
Aproximadamente 12% dos brasileiros consomem de modo prejudicial álcool e outros tipos de droga. Prova de que nem todos têm a sorte de Mauro em se controlar sem ajuda.
De acordo com o Alcoólicos Anônimos, o alcoólatra se caracteriza como aquela pessoa que começa a enfrentar problemas em decorrência da bebida, que ouve reclamações por conta dos seus hábitos e comportamento, que deve parar de beber porque não consegue fazer mais nada se não tiver a bebida no meio.
A irmandade mundial
autossuficiente que completa 40 anos de atuação no Pará em 2011 reúne homens e mulheres de camadas sociais, raças e credos diferentes em torno de um só objetivo: a sobriedade que o alcoolismo não permite alcançar. “O anonimato é o nosso alicerce espiritual, o que mantém os princípios acima das personalidades, aqui todos são iguais”, esclareceu o coordenador da comissão de cooperação com a comunidade do AA.
Sóbrio há 28 anos, o delegado do AA contou sua experiência. “Estou todo esse tempo sem tomar uma gota de álcool, mas passei por muitas dificuldades pra chegar aqui, tem que passar um dia de cada vez para não interromper o programa e alcançar o objetivo que é parar de vez.
Hoje tento livrar minha esposa do vício”. Ele informou que a pessoa quando chega na irmandade recebe folhetos e matérias onde deve ler e consultar a sua consciência e decidir se quer parar de beber. “A partir disso trabalhamos o nosso programa de reabilitação, composto de 12 passos individuais e 12 tradições que nos guiam dentro do grupo”, apontou.
TRATAMENTO
Em Belém, 170 mil pessoas têm problemas com álcool e drogas, estima o Programa de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma).
“Vamos ter mais dados regionalizados sobre o assunto à medida que for sendo implantada a política de redução de danos sociais à saúde para aqueles que usam álcool ou drogas, em toda a rede municipal e em Ananindeua”, informou Paulo Peixoto, coordenador do programa. Ele acrescentou que o programa vai assegurar o acesso desse usuário ao tratamento ou encaminhamento em qualquer unidade básica de saúde.
Segundo ele, toda a rede deve estar sensibilizada ainda no 2º semestre deste ano. “Teremos um encontro para tratar do tema em agosto”, acrescentou Peixoto.
Ele acredita que a situação do alcoolismo é preocupante no Pará e devem ser criadas novas políticas públicas e ampliadas as que já existem: “Temos apenas 5 Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas no Estado”.
De acordo com Eliana Souza, coordenadora do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), foram feitos ano passado 862 atendimentos na capital. “Atendemos muitas pessoas do interior, porque existe uma carência para esse tipo de atendimento e a demanda só tem aumentado”.
Mulheres estão bebendo mais
O sexo feminino já deixou de ser frágil há muito tempo, então é normal que se veja cada vez mais mulheres nas mesas de bares, muitas vezes desacompanhadas de homens.
Uma Pesquisa Nacional sobre o Consumo de Bebidas Alcoólicas (PNBA), realizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) em parceria com a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que as coisas estão mudando de forma acelerada entre a população dos 12 aos 17 anos.
Como um efeito maléfico da igualdade entre os sexos, as garotas passaram a querer se igualar aos garotos também nas bebedeiras.
Quanto mais jovens, dizem os pesquisadores, mais as mulheres se aproximam dos homens no consumo de álcool. O AA reforça os dados da pesquisa enfatizando que o número de mulheres alcoólatras vem se tornando problemático, já que a proporção que antes era de 5 homens bebedores habituais para cada uma mulher, hoje está praticamente empatado.
O problema maior é que as mulheres desenvolvem concentrações sanguíneas mais elevadas do álcool por uma série de fatores genéticos, e tendem a desenvolver a dependência em um prazo bem menor que os homens, pois eles demoram de 10 a doze anos para se tornarem alcoólatras, já elas tendem a desenvolver a doença em apenas 4 anos.
“Por conta disso vamos programar um dia de conscientização sobre o alcoolismo aproveitando que 8 de março é o Dia da Mulher”, informou o coordenador do AA. A estudante de enfermagem Thais Oliveira não acredita que o fato das mulheres estarem bebendo com mais frequência deva ser motivo para alarde.
“Quando dá, eu bebo toda sexta-feira com as minhas amigas, no sábado com o meu namorado, agora eu sei meu limite e acho que o alcoolismo independe de sexo, tem mais a ver com a conduta da pessoa”, disse. (Diário do Pará)