Do Blog Espaço Aberto
SERGIO BARRA
Não faz muito tempo que a crise econômica internacional abriu as cortinas do teatro político para a oposição nas eleições presidenciais de 2010. A situação, em 2009, foi pressionada a agir em ambiente adverso. O governo não poderia errar, pois qualquer hesitação podia custar caro ao PT na sucessão. À época, a oposição tinha pela frente um grande desafio de forjar uma candidatura que unificasse o PSDB, dividido entre os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).
Não custa nada lembrar que a divisão entre a plumagem amarela impediu que em passado recente o partido tivesse melhor desempenho eleitoral em 2002 e 2006. Lideranças do partido pareciam engessadas e cruzaram os braços nas duas eleições. A história pode se repetir.
Impulsionado pelo sentimento unânime dos mineiros em eleger um presidente da República, Aécio faz o velho estilo das Alterosas, fez do estímulo ao sentimento disseminado contra o predomínio dos paulistas seu mote. Serra queria que a candidatura fosse fruto do consenso das principais lideranças de oposição, Aécio queria que ela fosse construída num processo de eleições prévias em que o País seria ouvido.
É de domínio público que Aécio foi derrotado nas suas pretensões. Recentemente, deixou de se manifestar sobre as denúncias, encampadas por Serra, para tentar desestabilizar Dilma Rousseff. Foi um silêncio significativo. Expressivo como um traço de marcador para quadro branco.
A metáfora, possível de ser imaginada, que separa o território de atuação da oposição mineira e da oposição paulista. Ambas adversárias do governo de Luiz Inácio. Só que a primeira é democrática e a segunda é golpista.
Revista de circulação nacional afirma que em jantar na Cidade Maravilhosa, Aécio empolgou-se ao falar da necessidade de reformas políticas no Brasil e, para sustentar os argumentos que desenvolvia junto a um grupo restrito de amigos, anunciou, dois meses atrás, que ia deixar o PSDB. Foi no apartamento do empresário Alexandre Accioly, no Edifício Cap Ferrat nº 6º andar, na avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio.
O cenário entre ele e os tucanos é de desgaste absoluto, embora no quadro de campanha presidencial cumprisse, em Minas, segundo maior colégio eleitoral do País, o ritual da fidelidade ao candidato do PSDB. Mas esse esforço cessou ao pôr em risco o projeto que Aécio tem. Assim, a forte reação do eleitor mineiro excluiu a presença de Serra na propaganda de tevê de Antonio Anastasia, que liderava as pesquisas de intenção de voto no Estado.
As eleições mineiras sorriam para Aécio, ele estava praticamente eleito para o Senado e o aliado dele, Itamar Franco, podia ficar com a segunda vaga. Pesquisa recente do instituto Vox Populi mostra que apenas 8% do eleitorado mineiro votaria em Serra "por causa de Aécio". Reflexo: pesquisa do Ibope apontava Dilma com 31 pontos à frente de Serra.
Aécio já tem um novo projeto político na cabeça. Não se abrigará em outro partido. Com a vitória da candidata do PT, quer estabelecer uma oposição democrática, já que o PSDB renegou esse papel ao preferir abraçar o udenismo golpista. Não será surpresa a desfiliação de Aécio do partido.
O neto de Tancredo Neves caminha firme nessa direção. Só que em silêncio, como convém à tradição mineira da qual é herdeiro. A novidade é ter anunciado agora. Por descuido? Só acreditará nisso quem admitir que político mineiro se descuide com assunto tão melindroso.
SERGIO BARRA é médico e professor