Equilíbrio, quando a generosidade prejudica.
É um ponto pacífico na maioria das religiões, enaltecer a generosidade sem limites, como uma das maiores virtudes a alcançar nesta vida, quanto mais generosos formos melhor, até mesmo nos esquecendo de nós mesmos, sacrifício este considerado uma prova de perfeição.
Mas a generosidade excessiva, será mesmo prova de evolução moral e espiritual? Esquecer de si mesmo em prol dos outros, é prova de evolução espiritual?
Considero ser o equilíbrio, uma das maiores provas de espiritualidade e evolução, sem equilíbrio qualquer virtude se corrompe e deixa de ser virtude para se tornar um defeito, pois toda pessoa sábia e espiritualizada é necessariamente é uma pessoa equilibrada.
A idéia do auto-sacrifício pura e simplesmente como prova de espiritualidade e evolução, não faz sentido.
Veja, se o sacrifício de si mesmo não for feito com sobriedade em prol de um objetivo maior, bem definido e lógico, podemos o comparar com o suicídio ou um ato tolo, tresloucado e inútil.
Jesus nos aconselhou a amar o próximo como a nós mesmos, ele não disse para amarmos o próximo MAIS que a nós mesmos.
Quem não se ama e não é bondoso e gentil consigo mesmo, como pode amar e ser gentil com os outros? Nós só podemos dar o que temos, como dar amor ao próximo se carecemos de amor próprio?
Vejamos: Sacrificar ou arriscar a nossa própria vida para salvar a vida do outro, pode ser uma prova de amor ou de tolice, dependendo da situação.
Muitas vezes, o outro se colocou de forma irresponsável em uma situação de risco por escolha própria, neste caso é justo que você troque a sua vida pela dele?
Você sacrifica a sua vida por uma pessoa, tola e irresponsável, e as pessoas que te amam e precisam de você, como ficam?
Você se coloca em uma situação financeiramente difícil, para ajudar quem se endividou por falta de responsabilidade financeira, gastando mais do que pode, as veses com farras e vícios, e que não se esforça o bastante para ganhar dinheiro por seu próprio esforço, então você o ajuda e se arrisca a ficar no lugar dele, neste caso, como fica você e como ficam as pessoas que dependem de você, pessoas pelas quais você tem a responsabilidade de amparar, proteger e sustentar?
Você gasta a maior parte do seu tempo ajudando os outros, e não tem tempo de cuidar de si mesmo, dos que dependem dos seus cuidados, não tem tempo para os que ama e que lhe amam... O que você está fazendo da sua vida?
Não estou dizendo que não devemos ajudar os outros, isso seria egoísmo, o que é talvez o pior defeito do ser humano. Estamos nesta vida para aprendermos a ajudar os outros e a nós mesmos.
Ajudar os outros, não deve ser um sacrifício para nós e para quem amamos. Do que adianta ajudar o outro, sacrificar a nós mesmos, e ao mesmo tempo negligenciar as pessoas para com as quais temos responsabilidades nesta vida?
Outra coisa, se estivermos sempre dispostos a ajudar os outros sem nunca dizer não, corremos o risco de parecermos fracos e tolos, criando a dependência dos outros em nós, o que as desestimularão de resolver seus próprios problemas e por si mesmas, as tornando verdadeiros parasitas.
Além do mais, com o tempo, sua disponibilidade constante em ajudar, não mais será vista como generosidade e sim obrigação, portanto, dispensando os outros de qualquer tipo de dever de gratidão ou reconhecimento. Ai você reclama que ajuda os outros e ninguém reconhece. Acontece que você ajudou de forma errada e com a intenção errada.
Outra coisa, se você ajuda da forma correta, terá o amparo e proteção dos bons espíritos e uma aura positiva como escudo e defesa. Se pelo contrário, ajuda da forma errada, terá os inimigos de quem ajuda como seus inimigos, pois eles não vão gostar nada disso.
Todos os dias, vemos nos programas policiais, pessoas que se deram muito mal ao ajudar pessoas erradas na hora errada.
O equilíbrio está no caminho do meio, não ser uma pessoa egoísta e nem exagerar na generosidade, a diferênça entre o remédio e o veneno é apenas a dose.
Antes de ajudar a velhinha a atravessar a rua, verifique se ela quer, se precisa e se ela sabe para onde está indo, para que ela, se estiver perdida, não se perca mais ainda.
Muitas vezes a pessoa está em um momento difícil na vida, para aprender uma lição e para aprender a resolver seus próprios problemas.
Se você tiver equilíbrio saberá quando precisa ajudar o outro e se sua ajuda será útil, muitas vezes atrapalhamos o outro e nos prejudicamos tentando ajudar, saberá ainda se a sua ajuda vai resolver o problema, e o mais importante: Só ajude quem quiser ser ajudado.
Muitas vezes, a vontade de ajudar os outros, não passa de um desejo de se meter na vida alheia sem ser chamado, ou um sentimento egoísta de ser retribuido pela própria pessoa, ou por Deus.
Dizem que quem dá aos pobres empresta a Deus, e que recebemos em dobro por tudo o que fazemos pelos outros, ora, neste caso, toda essa generosidade é apenas um excelente negócio, um investimento com rendimento de 100%.
Isso não demonstra generosidade autêntica, demonstra apenas que a pessoa é uma boa comerciante e investidora.
Portanto, quando ajudar alguém não espere gratidão ou retribuição de ninguém, nos ajudar mutuamente é nossa obrigação como seres humanos e filhos de Deus.
Ajudar os outros esperando recompensa, e depois ficar reclamando de ingratidão, é falta de noção, espiritualidade e sabedoria.
Só temos controle e certeza do que nós mesmos fazemos, não temos controle sobre o que os outros fazem, ou sobre seus sentimentos, portanto, é tolice nos preocuparmos com isso.
Se ajudar os outros com equilíbrio é o nosso dever como ser humano, façamos a nossa parte e seguimos em frente sem olhar para trás, sabendo que receber gratidão ou reconhecimento dos outros por nossa generosidade, não é uma certeza, não uma satisfação pela qual devemos esperar, mas se vier melhor, sejamos gratos pela oportunidade de sermos úteis contribuindo com o nosso próprio progresso espiritual.
Então como saber se a nossa generosidade é uma virtude ou algo negativo?
Simples, se ajudar os outros lhe causa contentamento, alegria, paz interior e a sensação de dever cumprido, é uma virtude com certeza, mas se a sua "generosidade" lhe causa decepção com as pessoas, tristeza e esgotamento energético, o levando ao arrependimento, ao desânimo e a reclamação, então com certeza tem algo muito errado, você precisa parar o que está fazendo, e olhar para dentro de si mesmo para se conhecer melhor, e assim entender o que está acontecendo de fato.
Assim como o vício e os erros só atraem coisas ruins, as virtudes só atraem coisas boas. Se isso não está acontecendo, é motivo para você reavaliar suas ações.
É normal, estando encarnados em um mundo material e primitivo, que passemos por dificuldades e momentos difíceis, no entanto, se estivermos em paz com nós mesmos e com a vida, e se tivermos equilíbrio e sobriedade, aconteça o que acontecer estaremos bem e em paz em nosso interior, é isso que importa, e é isso que a espiritualidade maior e os nossos amigos espirituais esperam de nós.
Se procurarmos viver em equilíbrio, cultivando e buscando as virtudes, seremos fortes e resilientes, superando qualquer obstáculo na vida.
Então, respondendo a pergunta inicial sobre se a generosidade pode nos fazer mal, a resposta é Não, por ser uma virtude, a generosidade desinteressada, equilibrada e fruto do amor, só pode nos fazer bem.
Portanto, se a sua generosidade te faz sofrer e se decepcionar com os outros, isso significa que o Universo está lhe avisando que algo está muito errado, e que é hora de você parar e procurar conhecer a si mesmo.
Se ocupe apenas do que você pode controlar, e você só tem condições de controlar a si mesmo, então não espere a gratidão e o reconhecimento dos outros, isso você não pode controlar, portanto, seja sábio e ajude desinteressadamente quando quiser e puder depois esqueça e siga sua vida,
Os sentimentos de gratidão e reconhecimento por nossas ações, que realmente são importantes para nós, são os que sentimos por nós mesmos.
Seja grato por ser o que você é agora, se você mesmo não reconhece o que a vida lhe deu, como cobrar reconhecimento pessoal dos outros?
Seja equilibrado, sóbrio, se ame, ame a Deus, ame a vida e seja feliz.
Namastê.