Passo algum trabalho para reinjetar-lhes a vontade, mas ela logo volta.
Volta quando lembro que, num jogo decisivo, quando se chega aos últimos minutos, nada é mais importante do que o adversário se creia derrotado, desanime e permita que se alcance o placar folgado, vital para suas pretensões.
Volta quando percebem que há ainda muitas escaramuças a travar em busca do tempo que precisamos para que a onda de lucidez que vai tomando conta do país se amplie.
Volta quando se dão conta de que pela primeira vez na História, os homens e mulheres não dependem mais de intermediários para falarem-se uns com os outros aos milhões e que isso racha, cada vez mais, os canos dos canhões da mídia, que é o poder.
Volta, e muito, quando constatam que a ilegitimidade golpista não tem e não terá as armas da Nação voltadas contra seu próprio povo.
Volta, num suspiro, quando se vê a juventude redespertar em seu brilho, em deixar de ser tribo para ser povo.
Volta porque o Brasil se move pelo seu destino.
Volta quando se pensa que as boas causas, a Justiça, o progresso social, o humanismo, a lucidez e tudo o que prezamos são montanhas a que cada geração levou um grão, e outro, e mais outro.
Volta porque nunca se foi.
Porque só há dor quando há amor, porque o que nos é indiferente não nos emociona, para a alegria ou para a tristeza.
E o Brasil e o seu povo são indiferentes para eles, jamais para nós.
Dói, sim, porque não somos um muro de pedras, que pedras não sentem, só ferem com suas arestas.
Mas porque não somos pedras, podemos nos mover.
E porque podemos nos mover, não iremos parar nunca.
Não há desânimo possível quando percebemos que somos, de novo, um só povo. Tudo o que esta quase década e meia de nossa trajetória começou a fazer mas não soube fazer perceber o sentido.
Década e meia que levaram para derrubar Vargas e ganhar um breve intervalo até que ele voltasse nos braços de seu povo.
A história e a vida têm sentidos que não dependem exclusivamente de nós. Mas sempre dependem, muito, de cada um.
Para mim, especialmente, este sentido é tão fácil de perceber, porque um filho pequeno, em suas dificuldades, precisou vencê-las e as venceu com a ajuda do bordão que o pai lhe repetia, ao baterem-se as mãos: “nós somos os vencedores, nós não desistimos nunca”.
Ânimo é alma.
Perder um é perder a outra.
Eu não sei dizer se será o sol ou a noite que nos aguarda domingo.
Mas sei que vejo em você, aqui, de longe e tão perto na apreensão, a certeza de que há luz.