Vejam neste discurso proferido a 80 anos atrás. Notem que a maioria dos temas abordados continua atual. A oitenta anos já se fazia política suja, a oitenta anos a classe política neste país usa o poder para satisfazer seus interesses e as suas ambições em prejuíso do Brasil e da população, principalmente os mais pobres. Mas nada mudou porque o povo continua alienado e omisso. Continua porque o povo aceita e permite. Permanece porque o povo vota em quem não tem compromisso e não tem ética.
Abaixo estão as duas primeiras páginas do discurso proferido por ALDEBARO CAVALEIRO DE MACEDO KLAUTAU, como ORADOR DA TURMA de bacharéis em Ciências Jurídicas e Sociais, diplomados em 29 DE DEZEMBRO DE 1929, pela FACULDADE LIVRE DE DIREITO DO PARÁ.
O discurso foi denominado de:
“A CADEIA DE SÂO JOSÉ, VERGONHOSA AFRONTA À CIVILIZAÇÃO DOS POVOS CULTOS
O Brasil atravessa uma fase de vida agitada, cheia de graves e terríveis apreensões. A luta política domina todos os espíritos e todas as classes sociais se movimentam em torno do grande problema da sucessão presidencial. Alistar eleitores, conseguir adeptos a um ou outro candidato, é hoje a questão dominante no seio de nossas sociedades, e a preocupação maior de nossos dirigentes.
Grande motivo de jubilo para os corações patriotas! O Estado brasileiro parece querer ressurgir, com dignidade e desassombro, de servilismo torpe a que já se ia acostumando.
Podemos, atualmente, dizer, com justa consolação: No Brasil já há luta eleitoral. É, na verdade, o primeiro passo para a almejada existência do livre exercício do voto. 0 povo, a grande massa constitutiva da nacionalidade nossa, procura compreender melhor o seu valor e se enche de vitalidade.
É digno de calorosos elogios o movimento que ora se desenrola no campo de nossa vida pol1tica. Desoladora, porém, é a atitude dos membros do Congresso Federal, circunscrevendo quase que completamente a sua ação a pueris discussões sobre as virtudes e os defeitos dos nomes ilustres, apontados ao sufrágio de seus concidadãos, nas próximas eleições de março vindouro.
Discursos eloqüentíssimos, orações que empolgam, são proferidas nas Câmaras legislativas federais, sem outro interesse que amesquinhar os adversários e receber os aplausos apaixonados do povo curioso que vai ocupar as galerias.
Senhores. Outra e não essa é a missão de nossos parlamentares. A propaganda eleitoral deve ser feita em outros campos e por outros meios. Ai estão a imprensa e a tribuna popular. O Congresso não foi criado para ser teatro de exibições, nem arena para ai se degladiarem, por interesses quase sempre pessoais, os nossos ilustres Licurgos.
Há tantos e tao urgentes assuntos a resolver no Brasil. O de que mais precisamos não é encarado como o deveria ser pelo nosso poder legislativo.
Inteiramente esquecidos de seus deveres primordiais, estão muitos congressistas brasileiros. Necessária se torna uma reação no sentido de transformar as sessões que se realizam no palácio de Monroe, em esperançosas fabricas do progresso da Nação.
E isso só conseguiremos se os nossos legisladores, compenetrados da elevada missão que lhes conferiu o voto popular, elaborarem, para submeter as discussões de seus pares, projetos de relevante importância sobre as questões mais palpitantes, que afetam bem de perto a vida da nacionalidade.
A debatida e nunca solucionada questão de extermínio ao analfabetismo é ainda encarada pelos representantes do povo com uma indiferença pungentemente contristadora.
A instrução superior, principalmente, tende a se constituir, dentro em breve, urn privilégio das classes protegidas da fortuna. E, será assim, encarecendo e dificultando cada vez mais o ensino, taxando com exorbitância as contribuições escolares, que poderemos conseguir a diminuição da grande percentagem de analfabetos que, infelicitando a Nação, entrava o progresso do seu povo? Certamente que não.
Ao lado desse revoltante desprezo a que se acha lançada a alfabetização da nossa gente, assoma por sua capital importância, a desafiar as atenções de nossos governantes, o estado deplorável da quase unanimidade das prisões no Brasil.”