De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do  Instituto Vox Populi
Quem tinha razão era Magalhães Pinto, velha  raposa política e ex-governador de Minas Gerais. A política é mesmo como  nuvem. Uma hora, você olha e vê uma coisa. Olha de novo e ela já mudou.
Se  estivesse vivo, seria o que ele diria sobre o período da campanha  presidencial que agora se encerra. Do início de abril, quando se  desincompatibilizaram os principais candidatos, ao fim de junho, quando  começa a reta final da sucessão, tudo ficou diferente.
A entrada  em campo de Serra era aguardada há meses. É verdade que ele teve que  disputar, até dezembro, o posto de candidato com Aécio, ainda que não se  preocupasse muito com as aspirações do mineiro. Estava convencido de  que o PSDB terminaria por lhe entregar a vaga.
De qualquer  maneira, o fato é que, desde quando Aécio saiu do páreo, nada mais  restava em seu caminho. Com a candidatura assegurada, teve amplo tempo  para se preparar, montar sua estratégia, organizar sua equipe. Ainda que  continuasse, de janeiro a março, com suas obrigações de governo, pôde  pensar com calma no que faria quando saísse do Palácio dos Bandeirantes.
Com  algum retardo (que ajudou a manter o suspense sobre sua decisão até a  véspera do prazo fatal), ele finalmente renunciou ao cargo de governador  e virou candidato. Juntou-se a Dilma que, dias antes, havia deixado o  ministério.
Entre o começo de abril e meados de maio, Serra viveu  seus melhores 45 dias desde quando iniciou sua jornada em busca da  Presidência. Quem tiver alguma memória se lembrará do que andaram  dizendo seus correligionários e publicaram aqueles que por ele torcem na  imprensa carioca e paulista.
Era como se estivesse ali começando  para valer a sucessão, com um goleador nato, em momento inspirado,  mostrando seu melhor futebol. Para eles, Serra fazia um gol atrás do  outro, com postura serena, palavras sempre bem escolhidas, hábeis  manobras.
Pelo que se lia nesses jornais, enquanto Serra  conquistava novos apoios, Dilma perdia os dela. Era apenas questão de  tempo até que as pesquisas assinalassem seu crescimento. Enquanto não  vinham, as colunas estavam cheias de especulações sobre “pesquisas  internas”, que já o mostrariam bem à frente da adversária.
Se era  esse o tom da cobertura a respeito do candidato tucano, via-se o inverso  no que era publicado sobre a petista. Parecia que uma desastrada havia  entrado em campo, cometendo um erro depois do outro. Precipitação,  amadorismo, inabilidade, incompetência, era isso que se falava dela e de  sua campanha. Chegaram a dizer que Lula andava nervoso, agitado,  irritadiço.
As nuvens, no entanto, mudaram. Se o sol parecia  brilhar para Serra até o meio de maio, a chuva desabou de lá para cá.  Viu-se que a falta de traquejo eleitoral não prejudicava Dilma. Ela  cresceu nas pesquisas, suas alianças se confirmaram, outras surgiram.  Gorou a esperança de que a propaganda partidária de PSDB, DEM, PPS e  PTB, somadas, mudassem o panorama. Na maioria dos estados, alegrias para  o governo, decepções para a oposição. Lula já não franzia mais a testa.  Quando junho chegou ao fim, ele era só sorrisos.
Ficou, no  entanto, para o apagar das luzes da “pré-campanha”, o pior momento. O  episódio da escolha do companheiro de chapa de Serra tem tudo para  entrar para a história.
Desde a quarta-feira, quando Índio da  Costa foi confirmado, já se falou tanto que é até cruel insistir no  assunto. Qualquer argumento em favor de seu nome chega a ser risível,  desde o potencial de seus 40 anos atraírem a juventude e provocarem a  reversão do voto no Sudeste, à densidade de sua biografia de “ficha  limpa”.
Mas resta uma pergunta: por mais que as pessoas se julguem  imortais, um candidato a presidente não tem a obrigação de raciocinar  com a hipótese de vir a faltar, por qualquer motivo? Não foi, talvez,  pensando assim que Collor escolheu Itamar, que Fernando Henrique  convidou Marco Maciel, que Lula optou por José Alencar?
Goste-se  ou não de Michel Temer, nem seus inimigos negam que tem experiência e  qualificações para, se imperativo, substituir Dilma. E Índio da Costa?