Manifestação pelas Diretas já. |
Todo protesto público dos cidadãos que tem como motivação o interesse público, tem por finalidade exercer uma pressão política sobre o governo, isto é óbvio.
Mas todo protesto tem finalidade político partidária?
Não, nem todos os protestos tem finalidade partidária, embora os governantes por conveniência afirmem que sim. Vejam por exemplo os protestos contra o ditador da Síria e os protestos pelas diretas já contra o regime militar no Brasil. São protestos políticos, mas não são protestos políticos partidários embora haja a participação de políticos, o que é inevitável, já que os cidadãos que são políticos profissionais tem o mesmo direito de se manifestarem quanto todos os outros cidadãos.
Vamos colocar da seguinte forma: Você é morador de um bairro e a comunidade está insatisfeita com a administração pública. Você já tentou resolver o problema de todas as formas possíveis e não conseguiu, então você resolve fazer um protesto para pressionar o prefeito e conseguir resolver o problema da sua comunidade, ai você reúne os moradores do seu bairro e organiza um protesto.
Acontece que no mínimo uns duzentos candidatos a vereador estão concorrendo ou pretendem concorrer a uma vaga na Câmara Municipal, e estes candidatos estão espalhados por toda a cidade, portanto é muito difícil que no seu bairro não tenha uma pessoa que seja candidato, ora se ele é um morador ou um amigo ou parente de um morador, você não pode impedir a participação dele no movimento.
Neste caso, quando os moradores do bairro fazem o protesto, os bajuladores do governante procuram um político no protesto e é claro e lógico que na maioria das vezes vão encontrar pelo menos um candidato no meio do protesto, então usam isto para desqualificar a manifestação dizendo que é politicagem. É assim que funciona.
No caso da Comissão dos Concursados em que estavam incluídos alguns membros do Folha, foi a mesma coisa, tivemos o apoio e a ajuda de políticos de vários partidos, apesar do movimento não ter objetivos políticos e sim assegurar um direito adquirido.
Mas não é porque não tínhamos objetivos políticos partidários que iríamos recusar a ajuda de que precisávamos, já que não somos imbecis.
Se formos analisar RACIONALMENTE a questão das manifestações populares alegadamente com objetivos políticos partidários veremos que ela simplesmente não se sustenta diante da lógica, vejamos por que:
1 – Seria preciso admitir que o povo seja composto por um bando de idiotas que se deixa manipular sem questionar e sem motivo algum;
2 – Seria preciso admitir que o povo não tenha capacidade para diferenciar um movimento político/partidário de uma reivindicação justa;
3 – Toda organização social é política, mesmo que não seja político partidária. Todos os relacionamentos sociais são políticos, a direção da sua igreja é política, a sua associação de moradores do bairro ou sindical é política e até a organização dentro da sua casa é política.
O conceito de política é muito mais amplo do que a política partidária pura e simples. Portanto dentro de uma manifestação popular não tem como impedir a participação de pessoas ligadas à política partidária, já que isso seria impossível, além de ser antidemocrático.
4 - Para que o povo siga um político é preciso que haja primeiramente motivação, ou seja, o cidadão tem que ter um motivo forte para perder o seu tempo e muitas vezes um dia de trabalho, e se expor em uma manifestação pública.
Você pode fazer o movimento político que quiser e ter o apoio de quem quiser e puder, se for contra um governo que tenha a aprovação popular, isso simplesmente não funciona.
Nós vimos isso na eleição para governador no Pará, e vimos isso na eleição para Presidente da República, com resultados completamente diferentes e opostos na mesma situação, só que um governo tinha a aprovação popular e o outro não, apesar de terem como base o mesmo partido político.
Então tentar desqualificar uma manifestação popular alegando somente interesses políticos/partidários só porque dela participam políticos é uma demonstração inequívoca de ignorância e/ou má fé.