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quinta-feira 07 2013

Ex-deputado diz que comprou sentença de juíza

Ex-deputado diz que comprou sentença de juíza (Foto: Everaldo Nascimento/Arquivo)
(Foto: Everaldo Nascimento/Arquivo)
Uma gravação com onze minutos de duração, contendo denúncia de pagamento de propina a membros do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para obtenção de resultados favoráveis em processo de cassação de mandato, provocou a entrada da Polícia Federal no caso. 
A pedido do TRE, o Ministério Público Federal (MPF), que recebeu uma cópia da gravação, requisitou à PF a abertura de inquérito para apurar conversa na qual o ex-deputado e ex-prefeito de Marituba, Antônio Armando Amaral de Castro, diz ao atual prefeito de Marabá, João Salame, que ele deveria pagar R$ 150 mil à juíza Ezilda Mutran para obter decisão favorável no processo julgado na última terça-feira e que resultou na cassação do mandato do prefeito por 3 votos a 2. Salame foi acusado de compra de votos na eleição de deputado, em 2010. 
Em um CD, cuja cópia foi obtida pelo DIÁRIO, o conteúdo da conversa, que além da suposta propina envolve a juíza e o prefeito em um antigo problema familiar, chegou às mãos do presidente do TRE, desembargador Leonardo de Noronha Tavares, por intermédio do advogado Inocêncio Mártires Coelho Júnior, defensor de Salame no processo que tratava de sua cassação. Na gravação, Antônio Armando conta uma série de vantagens, afirmando inclusive ter sido ele o responsável pela salvação, no TRE, do mandato do ex-prefeito de Belém, Duciomar Costa, que foi acusado de compra de votos e abuso de poder econômico.
O ex-prefeito de Marituba – já condenado na justiça eleitoral por diversas irregularidades -, conta que a juíza, para mudar seu voto no julgamento de Duciomar, antes contrário à cassação e depois contra, teria tido uma “inspiração divina”. Armando diz quanto pagou no TRE para salvar o mandato de Duciomar e dá nomes de pessoas. No auge da conversa, pediu a Salame R$ 150 mil para resolver o processo do prefeito de Marabá no Tribunal, afirmando que o dinheiro seria entregue à Ezilda Pastana.
Salame procurou Inocêncio Mártires e o advogado o aconselhou a não entrar no jogo, que era muito perigoso. E disse ao prefeito que a situação se assemelhava ao vício em drogas, que tem porta de entrada, mas não a de saída. O advogado aconselhou o prefeito a lutar pelo seu mandato no Tribunal. 
Depois dessa conversa, o advogado informou ao prefeito que iria entregar a gravação ao desembargador Leonardo Tavares. Isso ocorreu antes do julgamento de Salame e antes também que Ezilda Pastana, relatora do processo, concluísse seu voto, que depois todos vieram a saber, era favorável à cassação do mandato do prefeito. Em uma conversa preliminar, antes da entrega da gravação, Inocêncio contou a Tavares o que estava acontecendo, ouvindo do desembargador que o assunto era “muito grave”. 
Sigilo
Quando a juíza proferiu seu voto, já no julgamento do caso, Salame estava na sessão do Tribunal e teria ficado aborrecido. Momentos depois, em companhia de Inocêncio, ele foi ao gabinete de Tavares e lá disse ao presidente do TRE que o voto de Ezilda o teria deixado “enojado”, para em seguida acrescentar que estava pensando em abandonar a política. Depois, em conversa reservada, Inocêncio disse a Tavares que o prefeito estava revoltado com o que acontecera na sessão do TRE. “O presidente ficou preocupado e me disse que gostaria de ter acesso à gravação e eu a entreguei”, contou ao Diário. 
O desembargador Leonardo Tavares informou por sua assessoria que não irá se manifestar sobre o caso, que está “sob sigilo” de investigação. A mesma postura foi adotada pelo MPF. A procuradora Melina Alves Tostes, designada pelo órgão, é quem vai atuar no caso. A juíza Ezilda Pastana, procurada para comentar o envolvimento de seu nome na gravação, não quais falar com o DIÁRIO, apesar das ponderações de um advogado que com ela manteve contato.
Prefeito acusa juíza de “ódio e rancor”
O prefeito João Salame, que está em Brasília, entrando com recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a decisão do TRE se manter no cargo, declarou ao DIÁRIO, por meio de nota, que fez a gravação, no carro de Antônio Armando, para se proteger num processo que avalia como “nebuloso e cheio de interferências políticas e pessoais que fogem da esfera jurídica”. Segundo Salame, a entrega do áudio a Inocêncio Júnior para que ele o encaminhasse ao presidente do TRE foi para cumprir seu “papel de cidadão”, acrescentando ter sido vítima de um julgamento “contaminado por questões de natureza pessoal, tendo em vista que a juíza Izilda Pastana Mutran, relatora do processo, foi denunciada na polícia, 20 anos atrás, por ter agredido fisicamente a atual esposa dele, à época grávida de oito meses.
Salame relata que, lamentavelmente, o registro dessa denúncia contra a juíza, “desapareceu misteriosamente dos registros da delegacia, o que nos impediu de solicitar sua suspeição”. Ele também lamenta que o desembargador Leonardo Tavares tenha recebido a gravação de áudio logo no começo da apreciação de seu processo no Tribunal e não tenha optado por suspender o julgamento para apurar, no âmbito da sua competência, a falta de isenção manifesta da relatora do caso. E ataca: “não aceitei pagar propina que me foi exigida para ser inocentado de algo que não fiz. Minha biografia não admite o emprego deste tipo de artifício” 
Mais adiante, o prefeito afirma ter sido “condenado injustamente” por uma julgadora que demonstrou possuir “ódio e rancor” por fato do passado. Observa que para ser condenado a verdade foi varrida e que toda a sociedade de Marabá é testemunha de que, na véspera do pleito de 2010, fez carreata pela cidade. Até seus adversários políticos confirmam isso. Só a juíza não teria se curvado às evidências e classifica isso de “trapaça ética”. Chama de ruidosa operação da Polícia Federal no posto de gasolina em Marabá ocorrida em 2010, quando apreendeu 18 notas de abastecimento, totalizando 200 litros de combustível, volume que define como “compatível com a realização do evento eleitoral”, e cujos gastos foram incluídos em sua prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral. 
Provas
Ao concluir, o prefeito informa que já se colocou à disposição do Ministério Público Federal para esclarecer os fatos narrados na gravação e acrescentar “outros elementos que vão robustecer as provas de que há algo mais entre o céu e a terra no TRE do Pará do que nossa vã filosofia possa imaginar”. E diz que será “incansável” na busca da Justiça. “O mandato de prefeito de Marabá me foi confiado por 57% dos votos dos eleitores de Marabá e o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que não é juridicamente possível cassar mandato conquistado na eleição de 2012 por alegada infração supostamente cometida no pleito de 2010.”
A GRAVAÇÃO:
1- A gravação revela conversa entre Antônio Armando e João Salame, quando Armando fala que salvou o mandato de Duciomar Costa, então prefeito de Belém, quando ele esteve à beira da cassação no TRE, pagando propina de R$ 300 mil para a juíza.
2- Antônio Armando pede R$ 150 mil ao prefeito de Marabá, para também ajudá-lo a não ser cassado pelo Tribunal, dizendo que o dinheiro seria entregue à juíza Ezilda Pastana. 
3- João Salame leva a proposta de Armando ao seu advogado Inocêncio Mártires Júnior, que o aconselha a não entrar no jogo e o incentiva a lutar pelo mandato.
4- Inocêncio entrega a gravação ao presidente do TRE, desembargador Leonardo Tavares, que pede à PF e ao MPF abertura de investigação para apurar o caso. O inquérito vai correr sob sigilo.
(Diário do Pará)

quarta-feira 06 2013

Membros do TRE pedem investigação sobre gravação em que políticos falam em corromper juízes

O pedido foi feito na semana passada ao Ministério Público Federal e à Advocacia-Geral da União. Todos os envolvidos já estão sendo investigados.
   
O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE) enviou, no último dia 31 de outubro, informações ao Ministério Público Federal (MPF) e à Advocacia-Geral da União (AGU) sobre uma gravação em que o ex-prefeito de Marituba, Antônio Armando Castro, e o prefeito de Marabá, João Salame Neto, conversam sobre a possibilidade de pagar membros do Tribunal para obter resultados favoráveis em processos de cassação. Salame foi julgado nesta terça-feira, 5 de novembro, pelo TRE acusado de compra de votos na eleição de 2010. Ele teve o mandato cassado por três votos a dois.
     
A gravação da conversa entre Antonio Armando e João Salame foi enviada ao presidente do TRE, desembargador Leonardo de Noronha Tavares, pelo advogado Inocêncio Coelho. Inocêncio é advogado de João Salame no processo que tratava de sua cassação. Durante a conversa, Antônio Armando afirma diversas vezes ter intermediado o pagamento de propinas a membros do Tribunal, conseguindo, segundo ele, evitar cassações de outros políticos.
      
Atendendo ao pedido do TRE, o MPF requisitou à Polícia Federal que investigasse os fatos, em inquérito policial que, neste momento, corre em segredo de justiça. A Advocacia-Geral da União, que tem a função de defender a corte eleitoral, irá, ainda nesta semana, interpelar judicialmente o ex-prefeito Antônio Armando para que confirme as afirmações que faz na gravação. 
   
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
(91) 3299-0148 / 3299-0177 / 8403-9943 / 8402-2708
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PMPA divulga resultado final de habilitação

A Polícia Militar do Pará (PMPA) publicou na edição do Diário Oficial de segunda-feira (4) o resultado final e a homologação, referente à habilitação dos candidatos aprovados e classificados dentro do limite de vagas ofertadas pelo concurso publico nº 003/PMPA/2012, para matrícula no Curso de Formação de Soldado da Polícia Militar do Pará (CFSD/PMPA/2012).
       
Os candidatos aptos na habilitação deverão se apresentar no dia 14 de novembro de 2013, às 7h30, nos locais discriminados no edital, para orientações com relação ao início do curso.
      
Os habilitados nos polos de Abaetetuba, Barcarena, Belém, Capanema, Castanhal, Paragominas, Santa Izabel do Pará e Soure deverão se apresentar no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças - CFAP (Av. Almirante Barroso, 2531, no complexo do Comando Geral da PMPA). Os candidatos habilitados nos polos de Tailândia e Tucuruí deverão se apresentar no quartel do 13º Batalhão de Polícia Militar (Av. F s/n, bairro Santa Mônica). Nos polos de Marabá e Parauapebas a apresentação será no quartel do 4º Batalhão de Polícia Militar (rodovia Transamazônica, Km 04, s/n, em Marabá).
     
Já os candidatos do polo de Santarém deverão se apresentar no quartel do 3º Batalhão de Polícia Militar (Av. Cuiabá, 2111, bairro Caranazal). Os habilitados no polo de Itaituba deverão se apresentar no quartel do 15º Batalhão de Polícia Militar (rodovia Transamazônica s/nº). Em Altamira a apresentação será no quartel 16º Batalhão de Polícia Militar (Av. Tancredo Neves, s/n, bairro Jardim Independente II) e em Conceição do Araguaia, no quartel do 22º Batalhão de Polícia Militar (Av. Araguaia, 150, bairro Vila Cruzeiro).
     
(DOL com informações do Diário do Pará)
         

terça-feira 05 2013

MPF e PF têm que intervir para que paciente possa passar por cirurgia em Belém


Funcionários do hospital Layr Maia só entregaram resultado de exame quando equipe da Polícia Federal esteve no local.

O Ministério Público Federal (MPF) teve que pedir à Justiça Federal a expedição de mandado de busca e apreensão de documentos para que um hospital entregasse resultados de exames médicos necessários à realização de uma cirurgia de emergência no último sábado, 2 de novembro, em Belém. O MPF abriu investigação para verificar quem são os responsáveis por dificultar o acesso aos exames, que só foram liberados na presença de policiais federais e oficiais da Justiça Federal.


   
O impedimento de acesso aos documentos foi comunicado ao procurador da República Bruno Araújo Soares Valente pela família de uma paciente diagnosticada com aneurisma cerebral. Para que a paciente pudesse passar por cirurgia, eram necessários os resultados de uma angiotomografia que estavam em posse do hospital Layr Maia, da empresa Hapvida Saúde. 


     
A família tentava conseguir os documentos desde o dia anterior, 1º de novembro. Apesar da necessidade urgente dos documentos, funcionários do hospital alegaram dificuldades administrativas para entregar os exames à família da paciente.


         
Após várias tentativas de contato com funcionários do hospital, no sábado de manhã a informação que os familiares receberam foi a de que só na segunda-feira, dia 4, seria possível a liberação do material. 
Em depoimento ao MPF, os familiares disseram que funcionários do hospital chegaram a alegar que não seria possível conseguir as chaves da sala onde estavam os exames porque a responsável pela  guarda das chaves mora longe do hospital. 


          
Informado sobre a situação, o procurador da República foi ao hospital para pedir pessoalmente a entrega dos exames, e também não foi atendido. Soares Valente então recorreu à Justiça Federal. O mandado de busca e apreensão foi cumprido por oficiais de Justiça e policiais federais.
        
Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
(91) 3299-0148 / 3299-0177 / 8403-9943 / 8402-2708

segunda-feira 04 2013

Tudo de uma vez - Ser uma pessoa multitarefeira pode parecer a melhor coisa do mundo, mas não é.


Tudo de uma vez

Pesquisadores das universidades de Utah e Stanford, nos Estados Unidos, alertam: ser uma pessoa multitarefeira pode parecer a melhor coisa do mundo, mas não é.


Uma tarefa interessante foi apresentada a jovens da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Os estudantes deveriam notar se um dos retângulos vermelhos de uma amostra com vermelhos e azuis mudava de ângulo de uma imagem a outra. Os multitarefeiros pesados não conseguiram detectar a pequena mudança no tempo permitido. Enquanto os multitarefeiros leves foram melhor sucedidos.

Quantas janelas você abre no computador enquanto checa seus e-mails e atualizações de amigos em redes sociais pelo celular? Você consegue cozinhar, conversar ao telefone e pôr o bebê para dormir com igual competência? Cuidado. O bombardeio de informações e a quantidade de tarefas a serem executadas ao mesmo tempo podem comprometer sua capacidade de concentração e, no final das contas, você acabará não fazendo nada direito. Ter um perfil multitarefeiro, muito associado à “geração Y” – jovens nascidos nos anos 80 –, pode também ser sinônimo de falta de atenção e de trabalho mal feito – o que afeta a empregabilidade.
Quando as novas gerações começaram a demonstrar facilidade em lidar com novas tecnologias e se adaptar ao bombardeio de informações dos meios de comunicação, educadores e empregadores arregalaram os olhos e apostaram nesse novo perfil de trabalhador do futuro. “A geração Y não tem aquele padrão de pensamento linear.
“As empresas ainda têm receios sobre a falta de comprometimento da Geração Y no trabalho”, declara Eline Kullock, presidente do Grupo Foco RH: “Pois eu digo eles vestem, sim, a camisa da empresa. Só que não tiram sua própria camisa antes”, analisa. Isso quer dizer que quem nasceu depois dos anos 80 não é um irresponsável, mas alguém que visa também a sua própria evolução.
A facilidade em lidar com os diversos tipos de tecnologia e a adaptação ao bombardeio de informação traz um problema: a falta de concentração. Então, é provável que chefes da geração anterior notem que, depois de uma longa reunião, seu funcionário Y demonstrará cansaço. Além disso, outra diferença notável é que a geração Y questiona (bem) mais. “Eles questionam mais e, portanto, nos fazem refletir mais. Com eles, trabalhamos menos automaticamente.
As gerações anteriores não questionavam tanto, aceitavam orientações, procedimentos e normas. E quando você tem uma geração que questiona mais, é obrigado a repensar sobre o que está fazendo e por que está fazendo”, reflete Eline. Toda geração tem sua história, seus pontos positivos e negativos. No entanto, elas se complementam e a química pode induzir a bons trabalhos. “Não é porque é diferente que é ruim; diversidade significa complemento”, finaliza.
Acostumados a lidar com tecnologia, internet e hyperlink, eles mudam de um assunto para outro muito rapidamente”, diz a especialista em gerações Eline Kullock, presidente do Grupo Foco, empresa de recrutamento e consultoria de recursos humanos. Com a demanda de informação nos dias de hoje, em que um incidente em qualquer canto pode repercutir em vários países ao redor do mundo, o tempo de concentração diminuiu. “O cérebro está acostumado a ir de um link para outro. Ficar muito tempo em uma mesma questão pode ser cansativo”, analisa.
Aí é que mora o perigo. Do ponto de vista dos departamentos de recursos humanos, esse pouco tempo de concentração pode ser um problema para a geração Y nas empresas, principalmente porque as organizações precisam da dedicação de tempos longos a reuniões extensas. “Para mim, a solução estará na discussão dessas dificuldades de gerações, para que se possa lidar com essas diferenças.” Ela defende que a entrada da geração Y no mercado de trabalho só tem a complementar e a enriquecer a experiência das empresas. “Eu chamo essa geração de geração do muito. Hoje, há muito de tudo: vários canais de televisão, marcas de carros, computador, celular. Além disso, muita informação. A tropa da geração Y está acostumada a lidar com esse caos. Eles tomam decisões mais rapidamente”, afirma.
Ciência da multitarefa
O conceito de multitarefismo ainda não está definido com exatidão. “Temos a capacidade de dividir nossa atenção em mais de um foco, mas quanto mais tarefas fazemos ao mesmo tempo, menos prestamos atenção em cada uma delas em particular”, explica Arthur Kümmer, professor e membro do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ou seja, sem dúvida é possível dividir a atenção entre cozinhar arroz e feijão ao mesmo tempo, mas, se a campainha tocar e o bebê chorar, é muito provável que a comida queime.
No que diz respeito à interação entre os humanos e as novas mídias, o multitarefismo se refere a executar duas ou mais atividades midiáticas ao mesmo tempo, não importando o modo como sejam feitas. Exemplo disso são os jovens que pesquisam a lição de casa na internet ao mesmo tempo em que atualizam o Orkut e enviam mensagens SMS. “A melhor hipótese sobre multitarefismo hoje é que fazemos uma tarefa por um tempo e depois trocamos para outra. Todos concordam que não podemos fazer duas coisas ao mesmo tempo”, argumenta Clifford Nass, do Laboratório de Comunicação entre Humanos e Mídia Interativa da Universidade Stanford, nos Estados Unidos.
A alternância de tarefas remete à ideia de que uma pessoa não pode consumir mais de uma mídia ao mesmo tempo, por isso troca de foco de uma para outra. “Uma das hipóteses da realização de multitarefas é que as pessoas as alternam. Não há dúvida que, ao consumir quatro mídias de uma vez, trocamos de tarefa frequentemente”, esclarece Nass. “Mas com apenas duas tarefas há um debate sobre se a pessoa alterna tarefas ou é capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo.”
Alguém que consiga realizar mais de uma atividade simultânea é uma exceção, e não a regra, dada a incapacidade de se processar várias informações ao mesmo tempo com excelência em ambas. “Uma coisa a se investigar no futuro é se o fato de ser multitarefeiro traz algum benefício. Infelizmente, as evidências que temos até agora são de que as pessoas assim qualificadas não estão mais adaptadas, mesmo quando é necessária alternância de atenção em mais de uma tarefa”, observa Kümmer.
Consumidores de mídia
A aposta em trabalhadores multitarefeiros está muito voltada à quantidade de informação que alguém pode absorver frente às diversas fontes de dados eletrônicos disponíveis hoje. Durante um tempo, os entusiastas olhavam os jovens estudando enquanto mantinham conversas por messenger e enxergavam um grande potencial.
No entanto, as pesquisas mostram que aqueles que mantêm foco em mais de uma atividade são uma raridade. O que se tem hoje são pessoas que, devido ao meio em que estão inseridas, se tornaram “multitarefeiras crônicas” mas não conseguem ser boas nos atributos relacionados ao multitarefismo: prestar atenção somente ao conteúdo relevante, armazená-lo na memória e alternar o foco nas tarefas.
Um estudo recente, feito por um grupo de pesquisadores da Universidade Stanford, analisou cerca de 100 estudantes da instituição e separou-os em dois grupos: os multitarefeiros de mídia pesados (HMM – heavy media multitasker) e os leves (LMM – light media multitasker). Os pesados são aqueles que consomem mais de quatro mídias toda hora, mesmo que os conteúdos não estejam relacionados com sua atividade atual. Já os leves são aqueles que, apesar de expostos às diversas mídias, costumam executar uma tarefa de cada vez.
Devido ao aumento de tecnologias interativas e do fluxo de informações via internet e aparelhos eletrônicos, muitas pessoas se tornaram multitarefeiras pesadas. No início do estudo, a hipótese era que elas seriam mestras em concentração. A conclusão, no entanto, foi contrária às expectativas.
Os cientistas constataram que os HMM que relataram fazer multitarefas com frequência faziam isso pior do que os LMM. “Os resultados mostram que os HMM são mais suscetíveis a interferências de estímulos irrelevantes do ambiente e de representações irrelevantes na memória”, diz o estudo. Os HMM também se saíram muito mal nos testes de alternância de tarefa e demoraram mais que os LMM na hora de mudar de foco.
Parecido, mas bem diferente
É falsa a associação entre multitarefismo e o “déficit de atenção com hiperatividade” (TDAH) que assustou pais e educadores tempos atrás. Apesar dos problemas comuns de concentração, Arthur Kümmer, da Universidade Federal de Minas Gerais, garante que a relação direta é errônea. Quem tem TDAH não necessariamente realiza multitarefas e viceversa, embora as pessoas multitarefeiras pesadas apresentem dificuldade de atenção. “Há evidências de que pessoas com TDAH têm performance muito pior do que as demais ao realizar multitarefas”, afirma Kümmer.
Estresse emocional
Nass e os demais pesquisadores do Laboratório de Comunicação entre Humanos e Mídia Interativa também relatam outras consequências do multitarefismo pesado que envolve déficit cognitivo e socioemocional. O fato de os multitarefeiros pesados terem dificuldade em descartar estímulos irrelevantes faz com que não consigam se concentrar por muito tempo, o que pode prejudicar o aprendizado. “Multitarefeiros pesados são muito piores em administrar a memória de trabalho e se distraem facilmente. Portanto, a tomada de decisão também fica comprometida”, explica Nass.
Os cientistas fizeram uma pesquisa online com 3.400 meninas entre 8 e 12 anos para analisar o tempo que passavam utilizando mídias e o impacto socioemocional causados por esse uso. Eles notaram efeitos muito negativos relacionados às multitarefas. “Entre as meninas pesquisadas, as multitarefeiras pesadas têm o desenvolvimento social e emocional prejudicado”, observa Nass. A justificativa é que elas interagem menos pessoalmente e isso acarreta menor entendimento de si mesmas e das emoções dos outros. “Também há evidência de que pessoas que realizam multitarefas em grande escala, quando adultas, têm menos inteligência emocional que os que fazem multitarefas com pouca frequência”, relata o pesquisador.
Nass alerta que, de modo geral, as pessoas já sentem, atualmente, estresse e vários problemas emocionais relacionados à correria da multitarefa. Pouco tempo de descanso, cabeça atolada de problemas e impossibilidade de concentração por mais de 20 minutos em uma leitura, por exemplo, são características marcantes das mentes altamente atarefadas. “A sociedade, normalmente, comete um terrível engano ao encorajar as pessoas a realizar multitarefas”, opina.
Vivência, não bytes
Pais e responsáveis costumam ficar preocupados ao observar crianças fazendo lição de casa. A TV normalmente está ligada enquanto o jovem resolve um problema de matemática ao mesmo tempo em que conversa com os amigos por meio de messenger. O problema do excesso de estímulos é que ele pode sobrecarregar alguns “circuitos” do cérebro, como os responsáveis pela memória de trabalho (a capacidade de armazenar e manipular informações na mente, necessárias para executar tarefas num determinado tempo), ocasionando a fácil distração.
“Diminuir o número de distrações às quais crianças e adolescentes estão suscetíveis é um desafio para pais e professores”, ressalta Kümmer. “Por outro lado, o próprio avanço tecnológico possibilita atividades educacionais mais interessantes e capazes de prender a atenção dos alunos”, pondera. Geralmente, os educadores podem utilizar esses recursos para capturar a atenção dos estudantes. Mesmo fazendo tudo ao mesmo tempo, algumas coisas simplesmente atraem mais e, de repente, nos pegamos focados nela por estarmos muito motivados a realizar essa atividade.
Nass recomenda que os adolescentes invistam mais tempo nos relacionamentos presenciais com outros, principalmente entre os 8 e 12 anos de idade, fase em que há o desenvolvimento e o aprendizado emocional. O contato humano é essencial, pois, na relação entre pessoas, aspectos como tom de voz, postura, gestos e expressões faciais são muito importantes e só podem ser entendidos com a vivência. “Os indivíduos HMMs também devem se forçar a passar pelo menos 20 minutos realizando uma tarefa antes de trocar”, sugere Nass.
Peças raras
Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, estudaram um mito: pessoas que conseguem falar ao telefone e dirigir ao mesmo tempo, sem que uma das tarefas seja prejudicada. “Usei o termo ‘supertarefeiros’ para caracterizar um subgrupo da população, de apenas 2,5%, que possui uma habilidade extraordinária em multitarefa, o que significa que o custo associado a ela é inexistente ou reduzido”, explica Jason Watson, um dos autores do estudo.
O teste aplicado foi o seguinte: em um simulador de pista movimentada, a pessoa devia dirigir ao mesmo tempo em que falava no celular por meio de fones. A tarefa era conduzir o veículo com segurança e memorizar uma série de duas a cinco palavras respondendo se a conta matemática estava correta. Por exemplo, “3-1+2=2?”, “gato”, “2x2+1=4?”, “caixa”. De 200 estudantes testados, apenas 5 foram classificados como “supertarefeiros”.
Mais estudos sobre essa habilidade tão cobiçada na atualidade estão sendo feitos por Watson. Também é importante ressaltar que as pesquisas não se contrapõem ao trabalho realizado em Stanford, por tratarem de áreas de tarefas diferentes. “Estamos usando o trabalho do professor Nass para avaliar as diferenças individuais sobre a autodenominação de multitarefeiro. Seria interessante também ver como os supertarefeiros lidam com essas pesquisas ou outros paradigmas de controle de atenção publicados pelo professor Nass”, argumenta.
Os cientistas observam que, mesmo existindo uma pequena parcela de 2,5% da população capaz de realizar multitarefas, muitos se julgam parte dessa minoria. “No mundo real, pelo menos quando se fala em celular e condução de veículo, os custos da multitarefa podem ser memoráveis – até mesmo mortais”, observa Watson. “É preciso ponderar o uso desse potencial e as consequências a longo prazo da supervalorização da multitarefa”, conclui.
Texto: maira@planetanaweb.com.br