Nos últimos dias da campanha mais tensa desde 1989, dilmistas respiram aliviados enquanto serristas lavam as mãos
Adriano Ceolin, Andréia Sadi, Nara Alves, Ricardo Galhardo
A eleição de 2010, a mais tensa desde o confronto entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello em 1989, termina amanhã, depois de um cabo de guerra muitas vezes desleal pelo voto do eleitor. Após tanta agressividade, o lado da candidata do PT, Dilma Rousseff, chega às urnas com vantagem confortável nas pesquisas depois do tombo no primeiro turno é um verdadeiro alívio.
Do lado do presidenciável do PSDB, José Serra, há resignação. Tucanos proclamam a crença na vitória, mas reconhecem internamente que a virada é mais um desejo do que uma possibilidade.
Nos bastidores, enquanto o PT chega às urnas mais uma vez eufórico, com a certeza de que elegerá a primeira mulher presidente do País, o PSDB procura se auto-absolver de culpa. E é o próprio Serra quem ensaia a explicação para uma eventual derrota ao comparar sua candidatura a David na luta contra o gigante Golias.
Dilma teve mais apoio de prefeitos, deputados e governadores, mais doadores, mais militância. E teve Lula. Diante da máquina federal, o entendimento entre tucanos é de que Serra foi até longe demais e uma vitória, assim como na história bíblica, seria um milagre de Deus.
Coordenadores petistas diminuíram as ironias em respostas aos adversários e trocaram o tom vitorioso em discursos e nos bastidores pela cautela. Petistas admitiram que as pesquisas que indicavam larga vantagem de Dilma sobre o adversário tucano contribuíram para o salto alto e a expectativa de vitória no primeiro turno. A própria candidata pediu, em discurso na última semana durante um evento em Brasília, que os petistas usassem um salto bem baixinho. “O 'já ganhou' não funciona, porque a pessoa fica orgulhosa", admitiu a ex-ministra.
Serra convoca eleitores a não esmorecer. Depois de tentar desmoralizar todos os principais institutos de pesquisa do País, afirmando que são comprados ou têm falhas metodológicas, Serra demonstrou preocupação com a abstenção no domingo. “Troquem o feriado por um feliz ano novo”, disse diversas vezes. O apelo serve para ampliar a vantagem nos Estados em que deve ganhar, especialmente no Sul e em São Paulo, onde conta com o governador tucano eleito Geraldo Alckmin para vencer por uma diferença de 5 milhões de votos.
No Nordeste, no entanto, a abstenção é vantagem para o tucano. Aliados de Serra na região esperam que, sem os candidatos a deputado que na primeira etapa transportaram eleitores até os colégios eleitorais, o tamanho da derrota tucana no Nordeste diminua.
Já em Minas, o ex-governador Aécio Neves, que no primeiro turno garantiu sua própria eleição ao Senado, a do ex-presidente Itamar Franco e reelegeu seu sucessor ao governo, Antonio Anastasia, relatou a Serra que o quadro no Estado não está nada favorável à esperada virada tucana. Resta saber, agora, se eleitor o mineiro será, de fato, o fiel da balança.
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