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quarta-feira 30 2009

Almir busca uma 3ª via frente polarização PT-PSDB

O ex-governador Almir Gabriel, um dos fundadores do PSDB nacional, disse ontem em conversa com jornalistas que ainda não escolheu data e local para formalizar a desfiliação ao partido, anunciada com exclusividade pelo DIÁRIO no último dia 14.


“Não é só questão de prazo, mas de momento político. O ato formal é uma arma política Vou usar quando e onde desejar”, afirmou o ex-governador, que, preocupado com o que considera más interpretações do noticiário sobre seus atos, convidou três jornalistas para uma conversa que se estendeu por mais de três horas em seu apartamento em Belém.

O objetivo era mostrar que não tem agido movido pelo ódio ao ex-pupilo Simão Jatene. Almir fez questão de dizer também que tem se debruçado sobre os problemas do Estado e tentado encontrar novos caminhos para uma política capaz de tirar do Pará a posição de “colonizado”. “Tudo o que foi feito no meu governo de pouco adiantou para mudar essa postura”, lamentou. Entre os colonizadores, de acordo com ele, está a Vale, a maior empresa do Estado, a quem o ex-governador não tem poupado críticas.

Almir Gabriel se esforçou para desfazer a imagem de quem tem sido movido apenas por uma desavença pessoal com o pré-candidato tucano ao governo Simão Jatene. Ao longo da conversa, repetiu quatro vezes que nunca fez política com ódio.

Sobre o futuro, disse que vai continuar fazendo política, mas não será candidato. Deve ficar em Belém pelos próximos dois ou três anos. Embora já tenha recebido convite de dois partidos (cujos nomes mantêm sob sigilo), diz que não vai se filiar. Também negou os boatos de que se prepararia para “bater chapa” com Simão Jatene numa convenção do PSDB, partido do qual não deseja mais ser sequer eleitor. Nem mesmo o pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra, terá o voto de Almir.

Na tentativa de construir o que chama de uma terceira via, que seria uma alternativa à polarização PT versus PDSB nas eleições do ano que vem, Almir tem feito uma maratona de reuniões políticas. Já recebeu representantes do PR (vice-prefeito Anivaldo Vale) , PRP (Jorge Rezende), PV (Zé Carlos Lima) e DEM (Valéria Pires Franco). Na semana que vem, abrirá espaço para os chamados partidos nanicos e também para um “certo partido maior que tem por aí”, disse, em tom de brincadeira, ao citar o PMDB.

BRIGA

Almir Gabriel, 77 anos, admite a fama de teimoso e turrão, segundo ele, “com todo prazer”. Diante da constatação de que não conseguiu, apesar de toda teimosia, convencer o PSDB a optar pelo seu candidato, que era o senador Mário Couto, indagou: “E quem disse que tenho que executar tudo?”

Almir admitiu que errou ao apostar as fichas em Couto. Repetiu que só se lançou candidato quando Couto disse não haver mais qualquer condição de negociação com Jatene, mas acabou sendo surpreendido com o acordo entre o ex-governador e o senador. Almir não deu detalhes do acordo que teria levado Couto a mudar tão rapidamente de ideia, tampouco quis citar os tais desvios éticos a que se referiu no comunicado em que anunciou ter deixado o PSDB.

O ex-governador contou que, ao ser informado de que não haveria acordo entre Couto e Jatene, propôs uma comparação do seu currículo com o de Jatene para assim escolherem o candidato. Evitando usar a palavra traição, Almir disse ter sido surpreendido com o acordo entre Jatene e Mário Couto. Disse que chegou a ouvir da direção nacional do partido e do próprio presidente do diretório estadual, senador Fernando Flexa Ribeiro, que não haveria a festa no sábado, 14, organizada pelos partidários de Jatene. Um dia antes, contudo, o acordo foi anunciado na imprensa. “O PSDB foi trouxa de escolher de jeito informal o candidato antes dos outros.”

NOVO CAMINHO

Com quem tem conversado, Almir tem batido na tecla de que é preciso buscar uma nova forma de fazer política no Pará. “É preciso ler a política sob várias nuances. Não quero ficar nessa de Jatene versus Almir. Hoje, quem é PT, acha que Ana Júlia é o bem. Quem é Jatene, acha que ele é o bem e vice-versa”.

Pelos cálculos do ex-governador, o Pará poderia saltar da 23ª posição para a sexta entre as maiores economias do País. Isso em apenas duas décadas e meia. A renda per capita anual de R$ 4 mil poderia chegar a R$ 6 mil. Para isso, bastaria utilizar bem os recursos naturais do Estado - minério, madeira, água, sol e terra.

Indagado sobre o porquê de não ter posto isso em prática, já que ficou no governo durante oito anos, Almir admitiu que “faltou uma ação política mais contundente”, disse, referindo-se à relação com as grandes empresas que atuam no Estado.

JADER

Outro mito que segundo Almir era preciso desfazer é o de que tem diferenças irreconciliáveis com o presidente do PMDB no Pará, deputado federal Jader Barbalho. Para ele, Jatene também teria dificuldade numa composição, já que deixou de cumprir acordo com Jader e ainda trabalhou para encolher a bancada peemedebista na Assembleia Legislativa. Tirou do partido nomes como Bira Barbosa e Ana Cunha e teria tentado tirar da legenda até a hoje deputada federal Elcione Barbalho, ex-mulher do deputado federal, dando a ela um cargo de representante do governo do Pará em Brasília.

“A minha discordância (com Jader) foi na hora da fundação do PSDB”, explicou Almir, já que os tucanos surgiram de uma dissidência do PMDB - partido que no período da abertura política abrigou todas as correntes que lutavam contra a ditadura militar. Na opinião de Almir, o mito de que odiava Jader foi criado porque, para o deputado, era muito mais fácil negociar com Jatene. “O Jatene é primário em termos de fazer política. O Jader tem pós-graduação”.

Pior do que Jatene para o Estado, segundo Almir, só mesmo Ana Júlia Carepa e o PT, partido no qual identificaria “vários problemas de DNA”, entre eles, a tentativa de ser sempre hegemônico. “Só eles têm a verdade”, ironizou. Almir não negou que poderá se aliar ao PMDB de Jader na construção de uma terceira via nas eleições. “Estou propondo aliança de ideia nova e acredito que ele (Jader) é inteligente para saber quando uma ideia nova vale a pena”, declarou, afirmando ainda acreditar “naquele vereador (Jader) em quem votou nos anos 60”, O ex-governador confessou ter votado em Jader em outras duas oportunidades: para deputado estadual e federal. (Diário do Pará)

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