Jader Barbalho não precisa apoiar a reeleição de Ana Júlia Carepa para continuar a receber tratamento VIP na esfera federal.
Por mais “companheiros” que sejam os petistas, a verdade é que Jader, apesar de todos os monumentais rolos, tornou-se maior que o Pará.
Por admiráveis qualidades pessoais – que, infelizmente, não utiliza em favor da sociedade – ele conquistou grande influência no cenário nacional.
Tanto que se tornou um dos principais avalistas do acordo entre o PT e o PMDB, em torno da presidenciável Dilma Rousseff.
E como as próximas eleições presidenciais serão um autêntico pega prá capar, não há como dispensar a força do maior partido brasileiro, o PMDB, ainda que pela metade.
Até porque a malona que é Dilma parece ainda mais pesada que a malona chamada José Serra.
Daí que é ingenuidade imaginar que Lula ou Dilma “ficarão de mal” com Jader por causa de Ana Júlia Carepa.
Como já dito, acordos políticos são feitos a partir de absoluto pragmatismo, quer em torno de programas, quer em torno de interesses pessoais.
E mais ainda quando a importância do PMDB não resume ao momento eleitoral, mas se estende à governabilidade futura.
Por tudo isso, então, a pergunta: se Jader se sente tão maltratado por Ana Júlia, por que não rompe de uma vez com ela?
Afinal, agora ele já tem o Ricardão/ Simão Jatene, que, apesar de todos os senões, é um candidato forte, com excelentes chances de chegar ao poder, ainda mais se apoiado pelo PMDB.
Os motivos para a aparente hibernação dessa “catita” chamada Jader Barbalho são vários.
O primeiro é o tempo. O segundo, as condições objetivas para a próxima disputa eleitoral. O terceiro, a sagacidade desse grande jogador que é Simão Jatene. O quarto – e não menos importante, muito pelo contrário – é o “futuro radiante” que a recomposição da aliança com os petistas pode trazer ao PMDB, em 2014.
II
Afobação é um dos maiores defeitos em política; paciência, a sua antítese.
É preciso sentir o rumo do vento. E, mais que isso, saber o timing de cada ação.
A dez meses das eleições, é impossível prognosticar quem será o próximo governador(a) do Pará. E ainda que tenha a seu favor o peso extraordinário do PMDB.
Repete-se à exaustão que Ana Júlia tem uma rejeição altíssima – algo em torno de 70%, no estado inteiro.
É um número tão elevado, que chega a ser improvável: como lembra um analista político, se Ana tivesse, de fato, uma rejeição de 70%, ou seja, quase nenhuma possibilidade de crescimento, o próprio PT se encarregaria de sua substituição...
Além disso, Ana não seria a primeira candidata a reconquistar o poder, apesar de uma rejeição em patamar elevado, a muitos meses das eleições.
Há, inclusive, um exemplo recente dessa virada: Duciomar Costa.
E Ana, da mesma forma que Dudu, tem a máquina na mão.
Tem a seu favor, ainda, um partido forte, aguerrido e coeso – a vitória acachapante do presidente regional do PT, João Batista, deixou isso bem claro.
E terá, também, no decorrer do ano eleitoral, uma enxurrada de dinheiro e de obras federais – que ao eleitor, como já se disse aqui, pouco importa a procedência, desde que sejam executadas.
Muitas dessas obras, aliás, tocam fundo o coração de qualquer pessoa, como é o caso da água, do saneamento, da luz elétrica, da cesta básica disfarçada em bolsa família e da casa própria.
Tudo isso pode levá-la a decolar, em relação a Jader e Jatene, com os quais se encontra emparelhada, nas mais recentes pesquisas (na verdade, os números para consumo interno dos partidos, e não aqueles que são divulgados).
A menos que o PT consiga costurar um frentão com PMDB, PTB, PR, PP, PDT e por aí vai – o que é improvável, como já se viu neste blog, tendo em vista que o PMDB e o bloco PTB/PR querem o mesmo naco do bolo – a próxima eleição será definida em segundo turno.
Ana, certamente, estará nele, porque o PT detém 30% do eleitorado.
E o seu adversário mais provável será Simão Jatene, o que tende a resultar em uma disputa ferrenha, que poderá ser decidida até na boca de urna.
Mais do que em muitas eleições, aqui valerá a máxima: vence quem erra menos.
E, é claro, não se descarta a hipótese de “terceiro turno”.
Esse é o quadro hoje.
Com uma Ana Júlia desgastada, mas, com meios objetivos para a recuperação, e um Jatene que, apesar de todas as dificuldades, consegue reunir uma boa quantidade de prefeitos no lançamento de sua pré-candidatura – e quantos mais não terão deixado de comparecer por medo de represálias, ou, simplesmente, porque também estão à espera da direção dos ventos?
É um quadro complicadíssimo, que só poderá ser visualizado com um pouco mais de clareza a partir do segundo trimestre do ano que vem, quando se tiver uma idéia mais aproximada da real periculosidade de Almir e da real determinação de Jatene; quando as pesquisas apontarem a possibilidade concreta da recuperação – ou não – de Ana Júlia; e quando os meios à disposição de Jatene – dinheiro, especialmente – estiverem mais definidos.
Em cima de tudo isso é que se fecharão as alianças. E elas, por todos os fatores objetivos que englobam, é que indicarão a tendência das urnas.
Jader nunca foi afobado.
Agora, se duvidar, encarnará o próprio Jó.
Jatene nunca será, novamente, o aliado preferencial de Jader – se é que um dia esteve em tal condição.
Apesar de toda a doidice e de toda a proverbial indolência, Jatene é esperto demais.
Talvez o único jogador que de fato se aproxima de Jader, em termos de pré-cognição, articulação política e discernimento da alma humana.
Coube a Ana Júlia revelar, sem querer, um calcanhar de Aquiles desse frio e secreto jogador que é Jader Barbalho: a vaidade intelectual.
Tudo num café da manhã em que Jader, como não é de seu feitio, demonstrou irritação por não ter respeitada a sua brilhante inteligência.
Fosse num grupo escolar, a “tchurma” se divertiria em colocá-lo de joelhos no milho, a olhar a parede, com um chapéu em forma de cone...
Jatene fez algo parecido: à vista de todos, quando era governador, secou-lhe a bancada na Assembléia Legislativa; subtraiu-lhe, mesmo, o fidelíssimo Bira Barbosa...
Mesmo assim, por absoluto pragmatismo, Jader teria apoiado esse brilhante adversário em 2006.
Agora, só o fará se não tiver para onde correr, até porque Jatene é um empecilho e tanto às pretensões futuras do PMDB.
É claro que quem simpatiza com a candidatura de Jatene tende a imaginar que não é assim.
E, no entanto, a verdade é esta: dois bicudos, dificilmente, conseguirão se beijar.
A Vice-Governadoria, em se tratando da reeleição da governadora Ana Júlia Carepa, é um cargo absolutamente sedutor a qualquer político com um mínimo de cacife e visão estratégica.
É possível que ela permaneça no cargo até 31 de dezembro de 2014, quem sabe até por determinação do PT.
Mas, é muito mais provável, por jovem e por integrante de uma tendência miúda, que Ana se desincompatibilize para concorrer, por exemplo, ao Senado Federal.
Isso quer dizer que o próximo vice-governador, muito provavelmente, concluirá o mandato de Ana, com boas chances de continuar governador por mais quatro anos, até 2018.
Além disso, a Vice-Governadoria, pelos problemas que pode criar, especialmente por um partido com a musculatura do PMDB, é uma garantia e tanto do bom comportamento petista.
Num período mais longo em que o vice assuma o cargo, numa viagem da governadora ao exterior, por exemplo, poderá causar tanto estrago quanto um dilúvio.
E, no caso de um peemedebista, não há o risco da satanização sofrida por Hélio Gueiros Júnior: o grupo de comunicação dos Barbalho é hoje suficientemente poderoso para evitar algo assim e até para, eventualmente, transformar o vice em uma poderosa vítima.
Tudo isso sem que o PT possa se livrar dele. Afinal, secretário é demissível; o vice, não.
Esses dois fatores – a possibilidade de ganhos imediatos com a reeleição de Ana Júlia e a possibilidade de ganhos futuros até maiores com a sua desincompatibilização - fazem com que uma aliança com o PT exerça grande atração sobre os partidos paraenses.
Especialmente sobre o PMDB, que enxerga longe e tem condições suficientes para tirar o melhor partido possível da vice.
Do ponto de vista do PT, a preferência por entregar a vice ao bloco PT/PR decorre da heterogeneidade do grupo, o que amplia a margem de manobra, ao permitir “dividir para reinar”. E até do menor poder de fogo do bloco, na imprensa e na AL.
Como se vê, o oposto do robusto PMDB, que se movimenta de forma compacta sob a batuta de Jader Barbalho.
É claro que, além da vice, Jader também quererá uma boa fatia do governo e, possivelmente, uma das vagas ao Senado Federal.
Ou seja, o serviço completo: barba, cabelo e bigode.
Mas isso já é outra história. Do Blog da Franssinete.
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