Brasília - Antes mesmo de se recuperar da recente polêmica sobre os casos de pedofilia, a Santa Sé se viu mergulhada em mais um escândalo de grandes proporções, desta vez envolvendo o já problemático banco do Vaticano. A Justiça italiana está investigando por lavagem de dinheiro dois dirigentes do Instituto para a Obra Religiosa (IOR), e ordenou a apreensão de 23 milhões de euros (cerca de R$ 52 milhões) depositados em uma conta do banco Credito Artigiano. O Vaticano se disse "surpreso e perplexo" com as acusações, mas reafirmou a confiança na idoneidade do presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi, e do diretor-geral, Paolo Cipriani, ambos envolvidos no caso.
De acordo com a Justiça, o banco administra, por meio de contas identificadas apenas com a sigla IOR, grandes quantias de dinheiro de procedência não declarada. E essa, na verdade, é a grande acusação que pesa sobre o banco da Santa Sé: omitir dados em relação às transações, como a identidade dos autores e a natureza da movimentação bancária - o que é exigido por normas que visam a evitar a lavagem de dinheiro. A imprensa italiana divulgou que o IOR pretendia transferir 20 milhões de euros ao banco alemão JP Morgan Frankfurt e a mais três instituições financeiras, o que teria chamado a atenção da Promotoria de Roma.
"A Santa Sé manifesta perplexidade e surpresa pela iniciativa do Tribunal de Roma, já que os dados exigidos se encontram no escritório competente do Banco da Itália", explica um comunicado emitido ontem pela liderança católica. O Vaticano ainda reiterou o compromisso de trabalhar de forma "transparente" no que concerne às transações do IOR. O presidente do banco, por sua vez, se disse "profundamente humilhado" pelas acusações. "Cumpri todas as indicações do Banco Central (italiano)", disse à TV estatal RAI. A omissão dos dados pode ser punida com até três anos de prisão e multa de 50 mil euros.
Essa é a primeira polêmica envolvendo o banco do Vaticano desde o escândalo da quebra, em 1982, do Banco Ambrosiano, que era na época o maior banco privado italiano e do qual o Vaticano era o principal acionista. Gianluigi Nuzzi, autor do livro Vaticano S.A., que traz uma compilação de 5 mil documentos sobre transações escusas do IOR entre as décadas de 1970 e 1990, destacou a atuação do Banco da Itália, que detectou as irregularidades nas operações recentes do IOR e bloqueou-as. "O foco nas atividades do IOR mostra que a parede de silêncio que existia entre a Itália e o 'banco do papa' veio abaixo", disse Nuzzi à agência Bloomberg.
Cautela - O professor da Universidade de Brasília (UnB) Virgílio Arraes, especialista em temas políticos da Santa Sé, acredita que o Vaticano dificilmente incorreria no mesmo erro depois do grande escândalo da década de 1980. "Na época da Guerra Fria, as características especiais do banco do Vaticano possibilitaram esse tipo de ação, que até hoje envolve muitas dúvidas. Mas, a partir desse episódio, o papa ficou mais criterioso, não colocou mais nas mãos de um cardeal a administração cotidiana do banco, e sim de profissionais, economistas", observa.
Para ele, até que tudo seja devidamente esclarecido, ainda há possibilidade de que tenha havido uma falha na escrituração da movimentação bancária, que não teria revelado os dados exigidos. "Ou o próprio banco poderia estar sendo utilizado para a lavagem de dinheiro", considera, lembrando que o banco do Vaticano sempre foi "um dos pontos sensíveis na administração da Santa Sé".
Diário de Pernanbuco
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